17/09/13

Ambientalismo e tecnologia

A respeito da questão sobre se o ambientalismo/ecologismo/o-que-lhe-queiramos-chamar é contra a tecnologia e acredita em recursos fixos, eu até diria que nas suas variantes mais contemporâneas, muito ambientalismo (sobretudo quando está incorporado em projectos politicos de "centro-esquerda") até é bastante entusiasta da tecnologia e da capacidade da economia crescer sem estar limitada pela quantidade de recursos existentes.

Veja-se que em muitos dos debates recentes sobre limitações à poluição, combate ao aquecimento global, etc, são os anti-ambientalistas a dizer "a redução das emissões de CO2 vai levar ao suicídio económico!" e os ambientalistas (ou pelo menos alguns) que dizer "não vai nada - a partir do momento em que se limite a emissão de CO2, tal vai incentivar o desenvolvimento de formas alternativas de produção de energia e o crescimento económico a longo prazo pouco ou nada vai ser afectado; vai acontecer o que sempre aconteceu: a escassez de um produto vai levar ao aparecimento de tecnologias que não usam - ou não usam tanto - esse produto".

Um exemplo pode ser este post de Paul Krugman, Anti-green economics, onde este ataca as teses dos criticos da redução da poluição:
[A] strange thing about the climate change debate. Opponents of a policy change generally believe that market economies are wonderful things, able to adapt to just about anything — anything, that is, except a government policy that puts a price on greenhouse gas emissions. Limits on the world supply of oil, land, water — no problem. Limits on the amount of CO2 we can emit — total disaster.

Funny how that is.
Já agora, no contexto da ciência económica dominante (aqui "dominante" não pretende ser nem uma crítica nem um elogio, apenas uma constatação de facto) a questão da protecção ao ambiente até costuma ser vista, não numa perspectiva de critica à tecnologia ou de haver limites finitos ao crescimento da economia (nesse ponto Malthus e Ricardo já passaram de moda), mas de ser simplesmente uma "falha de mercado" derivada de não se pagar um preço pela poluição ou pelo utilização de muitos recursos naturais, o que fará com que o mecanismo económico clássico de controlo da escassez (produto escasso > preços altos > busca de soluções alternativas) não funcione, levando à utilização excessiva dos recursos (poluir acima da capacidade de "reciclagem" natural, caçar mais do que o possivel para as populações recuperarem, etc.). Assim, para essa visão, basta criar, ainda que artificialmente, esses "preços", lançando impostos sobre a poluição ou criando quotas transcionáveis de emissão de gases poluentes (ou de apanha de peixe) para o problema estar resolvida. Eu diria que, para essa variante de ambientalismo, a crítica da Raquel Varela (de que seria um aliado da mercantilização) até me parece mais adequada do que me parece ser a do João Bernardo.

Pessoalmente, a solução que eu mais me inclino para os problemas ambientais é mesmo a dos impostos/quotas transacionáveis, mas depois usando as receitas desses impostos ou dos leilões de adjuducação de quotas para financiar um "rendimento universal garantido" distribuído igualitariamente por toda a gente.

3 comentários:

joão viegas disse...

"no contexto da ciência económica dominante (aqui "dominante" não pretende ser nem uma crítica nem um elogio, apenas uma constatação de facto)".

Bom, quanto a mim, uma expressão factual e neutra seria antes falar de "pseudo-ciência economica dominante".

Da mesma forma que podemos falar de uma "pseudo-ciência astrologica dominante". Como por exemplo na frase seguinte : "De acordo com a pseudo-ciência astrologica dominante, existe uma correlação forte entre o acto de comprar todos os dias o Correio da Manhã e a probabilidade de se ter uma vida cheia de satisfações."...

Boas

Anónimo disse...

"(...) nas suas variantes mais contemporâneas, muito ambientalismo (...) até é bastante entusiasta da tecnologia"

já percebi!
neste post (e no no outro anterior)
o Miguel Madeira confunde e baralha "ambientalismo" com "primitivismo".
e depois não admira que afirme com espanto que "ambientalismo" e "tecnologia" não são incompatíveis..


"da capacidade da economia crescer sem estar limitada pela quantidade de recursos existentes"
sem comentários..

nem vou perder tempo com o resto do post. é fraquinho demais.

Miguel Madeira disse...

«neste post (e no no outro anterior) o Miguel Madeira confunde e baralha "ambientalismo" com "primitivismo".»

Anonimo, mas você está a delirar? Mas se este post foi escrito exactamente para demonstrar que "ambientalismo" não é sinónimo de "primitivismo", como é que eu posso estar a confundir "ambientalismo" com "primitivismo"? Só uma dúvida - o português é a sua língua materna?