A crítica da naturalização da dominação hierárquica e da despolitização da dimensão social e política por via do "conservacionismo" não devem fazer-nos esquecer que o produtivismo e o elogio incondicional crescimento dos PIBs e da extensão sem limites do mercado consumo alimentam mitos igualmente funestos e reproduzem, à sua maneira, as "condições ideológicas" da subordinação hierárquica e do poder político pelas oligarquias da gestão económica.
Com efeito, a apologia do crescimento e a justificação da ordem estabelecida em nome do crescimento que assegura é uma mistificação grosseira. Não é verdade, por exemplo, que seja porque o desenvolvimento das forças produtivas é ainda quantitativamente insuficiente que existe a miséria do terceiro mundo e/ou se exacerba a precariedade nas sociedades economicamente mais fortes. E não será através do crescimento e da expansão do consumo dos assalariados que o capitalismo poderá ser transformado numa sociedade de iguais, ou cidadãos que governem de facto a esfera económica e da produção de bens e assumam o exercício político do poder de que a dominação os expropria.
Não se trata de disputarmos ao capitalismo o exercício do poder para produzirmos ou consumirmos mais. A questão é que queremos, porque queremos a democracia entendida como democracia governante, produzir de outra maneira e decidir em pé de igualdade sobre o como, o porquê e o para quê da produção. Na medida em que nos formos tornando capazes de o fazer, é evidente, dir-se-ia, que produziremos mais certas coisas e menos outras, que consumiremos de modo diferente e redefiniremos noutros termos a escassez e a abundância, e assim por diante.
Por fim, cair na apologia do crescimento pelo crescimento e do consumo pelo consumo equivale a cedermos ao primado da economia e à absolutização do capitalismo, esquecendo que ao "trabalho forçado" que hoje nos é imposto corresponde, como dizia Henri Lefebvre, um "consumo forçado" e uma vida quotidiana submetida a um regime de servidão que estão nos antípodas da liberdade.
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