Uma das ideias que vejo
diversas vezes repetida nos programas autárquicos de esquerda é o do
policiamento de proximidade. A sua defesa tende a surgir como alternativa,
embora não se possa estabelecer uma relação antagónica, à videovigilância ou ao
reforço do policiamento, medidas tendencialmente reivindicadas pelos partidos
do centro e da direita.
A ideia merece alguma
reflexão. Em primeiro lugar, porque o cenário da sua aplicação em alguns
bairros habitados, a título de exemplo, por uma população mais envelhecida não
nos parece difícil de imaginar (esperemos, no entanto, pela aplicação da lei
das rendas nos próximos anos). Em segundo, e por mais remota que esta
possibilidade possa parecer à primeira vista, o maior contacto entre
autoridades policiais e habitantes de um bairro não implica, necessariamente, o
mero contágio dos segundos por parte dos primeiros. O contrário também pode acontecer.
Uma das lições do processo revolucionário de 74/75 é a da fabilidade das
fronteiras que separavam as casernas militares do que acontecia ao redor.
Porém, basta ruírem as
bases da paz social para que o projeto caia completamente por terra. A pertença
a uma comunidade de bairro não se define por uma política de sorriso ou de
delicadeza. Tampouco a questão se resolve com umas visitas ocasionais a casa ou
por dois dedos de conversa no café. A pertença a uma comunidade implica uma
escolha que, por vezes, é exclusiva. Não se podem garantir as condições
necessárias ao cumprimento de uma ordem judicial de despejo e encontrar-se,
simultaneamente, «próximo da comunidade». E, numa conjuntura de austeridade que
assume proporções cada vez mais estruturais, a relação de compatibilidade entre
lei e comunidade será cada vez mais difícil de conseguir. Ou se estará com uma
ou se estará com a outra.
1 comentários:
Esquerda, Direita?
O Srº António Costa, simpático socialista, ofereceu recentemente à cidade um importante investimento social:
«As 27 câmaras que compõem o sistema de videovigilância do Bairro Alto começaram a ser instaladas em janeiro, depois de, no fim de 2012, a Câmara ter assinado contrato com a Navserver, a empresa que ganhou o concurso público, com um orçamento de cerca de 200 mil euros.»
Enviar um comentário