«Correndo o risco de defender uma visão instrumental da história e do sofrimento humano, arrisco dizer que o erro do neoliberalismo talvez possa ser visto como um erro positivo. Aparentemente, só os seus excessos parecem ter sido capazes de tornar a sua contradição teórica numa evidência prática, reconhecida por todos. A sua falência acabou, assim, por criar as condições para que o sentimentalismo impotente do «um outro mundo é possível» se tornasse num imperativo político incontornável e reconhecido por todos. Uma crise também é uma enorme oportunidade criativa. Quem sabe se o mundo não precisa da ameaça do apocalipse para decidir agir?
[...] Não podemos entender uma democracia liberal meramente como um enquadramento legal que regula a existência privada de um conjunto de cidadãos. Uma comunidade política não é um contrato, nem uma criação jurídica formal: é uma forma de vida temporalmente partilhada, substantiva e contingente que exige a dedicação e a responsabilidade de todos.»
6 comentários:
Arrisco: Negri/Hardt? Niet
João Galamba na fase pré-PS?
O que escrevi é incompatível com o factor de eu achar que Portugal não tem poder para mudar as regras do jogo?
Infelizmente, quem podia agir não o tem feito. Nós, portugueses, não temos muito mais do que o "sentimentalismo vazio de 'um outro mundo é possível'". Enquanto os outros não fizerem o desejável, nós só temos o possível.
Ok, já percebi que é o João Saldanha Galamba. Do mal o menos, entregou uma proposta com mais deputados do PS a pedir ao governo para taxar as mais valias bolsistas.
João,
Não estou de acordo com esssa ideia, e se pensares bem nem tu, de que temos que esperar sentados para que as coisas mudem. E que a única esperança que nos resta é a srª Merkel acordar esfuziante de alegria e dar-nos uns trocos para despesas sociais.
João, o que escreveu contradiz a ideia de que nada se pode fazer por estarmos em crise. Afinal, a crise pode ser um obstáculo ou uma oportunidade, mas dificilmente as duas coisas. Como remeteu para o contexto histórico concreto em que a acção decorre e para as possibilidades que ele permite, fico confuso em relação ao momento em que vivemos. Se os excessos do neoliberalismo foram «objectivamente» positivos porque demonstram a sua falência prática, então porque nos cozemos com uma regra orçamental tão ostensivamente inspirada na ortodoxia monetarista?
E se uma comunidade política não é um contrato, o que lhe custa distanciar-se do que escreveu Isabel Moreira?
A sua remissão para os outros é pura e simplesmente um gesto de demissão e capitulação. Se pensa isso compreendo mal o que o levou a candidatar-se a um lugar no parlamento.
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