27/04/10

Aproximam-se dias críticos

As hesitações da Alemanha estão a colocar a Grécia numa situação insustentável. O rápido agravamento das condições de financiamento do Estado Grego junto da banca e fundos privados efectivamente garante que este não conseguirá pagar as suas dívidas, parte das quais vence a 19 de Maio, a não ser que a União Europeia e/ou o FMI lhe façam empréstimos avultados urgentemente. O Estado Português está a ser arrastado para uma situação semelhante.

Os próximos dias poderão ser determinantes na definição do nosso futuro. Grécia e Portugal poderão ser obrigados ou a abandonar o euro, ou a implementar medidas draconianas para atingirem rapidamente o equilíbrio orçamental. Não duvido que o poder económico em ambos os países forçará os respectivos governos a optarem pela segunda via, obviamente exigindo ser excluídos dos sacrifícios a que querem obrigar os outros. O abandono do euro por parte de Portugal levaria inevitavelmente à nacionalização de quase todos os bancos, com a excepção daqueles que o Estado deixasse falir. Podem imaginar o pesadelo que tal seria para o poder económico em Portugal! Não admira, por isso, que este já se tenha começado a mobilizar de modo a assegurar a criação duma coligação efectiva entre PS e PSD que possibilite a antecipação e agravamento das medidas propostas no recente Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) da autoria do governo, como sacrifício ritual necessário ao apaziguamento dos mercados financeiros, FMI e UE. Neste contexto, as manifestações previstas para o próximo 1 de Maio poderão ter uma importância fulcral. É necessário demonstrar na rua a força da oposição ao PEC, deixando bem claro que qualquer tentativa para o implementar ou agravar as propostas nele previstas terá como resposta uma explosão da conflitualidade social.

5 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Caríssimo, muito folgo e, o que é mais, muito beneficia o Vias com o teu regresso às lides. Abraço e sentidos agradecimentos ao Diogo…

Agora, vamos ao que escreves e que tentarei conjugar com a leitura que proponho da
crónica do Rui Tavares no Público de hoje (28 de Abril), Como Acabar com a Crise da Crise Grega : "Mas há uma maneira de sair desta crise em dois passos. É ela os líderes europeus dizerem, com a solenidade suficiente, o seguinte: 'Não há economias periféricas nem centrais na zona euro; um ataque a um país da zona euro é um ataque ao euro enquanto todo; e não haverá nenhuma falência na eurolândia porque nós não o permitiremos; teria de falir a zona euro inteira, e isto só aconteceria a dois passos do apocalipse financeiro global, ou seja, não vai acontecer. Muito obrigado por terem ouvido.' E o segundo passo? Nem há; a crise da crise grega acabou naquele momento. Tal como quando, após a falência do Lehman Brothers, os estados mais relevantes disseram que avalizariam as dívidas de todos os bancos e o contágio foi contido. Agora trata-se de fazer o mesmo, só que com países onde vivem pessoas".
Porque é que não se faz o que o RT sugere? Porque não há vontade política - dir-se-á. Mas não é bem assim. O que se passa é que a vontade política que há na direcção da CE pouco se importa com a Europa. Ou só se importa com a Europa, ou a construção europeia, enquanto "oportunidade de negócios", primando esta sobre todos os outros aspectos, projectos, convicções ou valores, reduzidos no seu conjunto a acessórios descartáveis ao sabor da conveniência dos interesses económicos que monopolizam cada vez mais o poder político de decisão, em detrimento de qualquer outra vontade política.
Se é por isso ilusório pensar que a vontade política da economia efectivamente governante ao nível central europeu mude por si só para evitar o pior, só a luta decidida, e sempre que possível concertada à escala europeia, dos que põem a liberdade e a igualdade democráticas acima da Europa como "oportunidade de negócios" e nisso jogam a dignidade das suas condiões de vida, pode exprimir e impor, passo a passo, uma vontade política diferente. Essa que, para começar, faria com que as instituições centrais europeias tomassem as medidas que o RT indica.

Abraço

miguel sp

Pedro Viana disse...

Olá Miguel,

Sim, consegui, finalmente, arranjar um tempo para escrever.

Eu não acho que Grécia e Portugal irão ser obrigados a abandonar o euro. Porque, como disse no post, tal teria consequências muito graves para o poder económico, não só nos Estados directamente em causa, mas também para todos os outros que lhe estão associados. O problema financeiro pode efectivamente acabar se a Alemanha afirmar que não deixará a Grécia e Portugal falirem. No entanto, o problema económico-social só poderá então agravar-se. Porque a Alemanha exigirá um ajustamento orçamental drástico, cujas consequências obviamente os governos da Grécia e Portugal farão recair sobre os mais desprotegidos e os alvos mais fáceis. Aos poderosos ninguém pedirá sacrifícios. Portanto, não basta a Alemanha efectivamente aceitar financiar a Grécia e Portugal para que todos os problemas se resolvam. É preciso também a existência de governos nestes países que façam frente às exigências alemãs - que são em grande parte bluff - e que façam os poderosos efectivamente contribuir para o ajustamento orçamental. Não basta que a solidariedade europeia porque o RT anseia seja ao nível financeiro. Tem também de ser ao nível económico-social. A crise não acaba com empréstimos da Alemanha. Acaba quando a Alemanha diminuir a sua pressão exportadora, e começar a importar mais por via da revalorização dos salários dos seus trabalhadores.

Um abraço,

Pedro

Anónimo disse...

Bom Dia, Carlos Viana ! Eu já deixei um comentário mais acima no texto do M. Madeira. Para enquadrar e compreender melhor o texto do Rui Tavares, existe já na Net uma grande entrevista do Jacques Delors ao Paris Match Com,realizada há dias, onde ele com toda a diplomacia e inteligência nos explica em que é que se tornou a Europa de Merkel/ Sarkozy e Barroso... Até logo! Niet

Miguel Madeira disse...

O problema é que iria ser politicamente díficil ao governo alemão dizer isso ao mesmo tempo que restringe os benefícios sociais na Alemanha (como penso ter ocorrido nos últimos anos).

Miguel Serras Pereira disse...

Sim, Pedro, a "solidariedade financeira" não basta - mas a integração a esse nível da zona euro limita um pouco a liberdade do governo/gestão da Europa como "oportunidade de negócios" e poderia transformar-se num terreno mais favorável à concertação e federação das lutas dos trabalhadores e cidadãos visando a democratização do funcionamento institucional e da actividade económica. Além disso, impô-la neste momento é uma acção importante para impedir uma degradação ainda maior das condições de vida das populações do continente, ao mesmo tempo que uma afirmação de capacidade política.
São pelo menos estas as conclusões que tiro da crónica do Rui.
Abrç

miguel