25/04/10

Em honra das mães e filhas da madrugada

Não há mágoas nem queixas ou indignações, frustrações, rancores e revoltas que apaguem o significado e a profundidade das mudanças de 24 para 25 de Abril de 1974. Mas não vou gastar latim retórico a enumerar os indicadores da mudança pois ia-vos enfadar sem conseguir ser exaustivo. Escolho, por isso e neste dia, apenas uma provocação simbólica: imaginam as damas, as senhoras, as jovens e as adolescentes que só pelo 25 de Abril se tornou possível saírem à rua e ocuparem espaços públicos sem serem mandadas, impedidas, molestadas ou incomodadas? Não sejam modestas em demasia, minhas caras concidadãs, vocês foram, sobretudo por mérito vosso (pois claro), a conquista menos corroída, porque mais estrutural, daquela madrugada.

(também publicado aqui)

7 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

imaginam as damas, as senhoras, as jovens e as adolescentes que só pelo 25 de Abril se tornou possível saírem à rua e ocuparem espaços públicos sem serem mandadas, impedidas, molestadas ou incomodadas?

Peço desculpa mas não é bem assim:
http://wwwmeditacaonapastelaria.blogspot.com/search/label/25%20de%20Novembro

GMaciel disse...

A fotografia escolhida, e não sabendo eu em que lugar foi tirada, evoca-me a manhã de 25, quando as mulheres de Almada seguiram a pé com alcofas cheias de leite, pão e fruta para dar aos soldados instalados no Cristo Rei. Os olhares gratos, os sorrisos algo tímidos dos homens que nos deram a liberdade, ficaram gravados na minha memória.

João Tunes disse...

Ana Cristina Leonardo,

Ora, tudo é um processo, minha cara absolutista. E 5-0 não justifica tanto azedume (eu bem a vi lá no estádio, frente à minha bancada entre a malta de Olhão, ainda lhe acenei mas nada de resposta). Sei que era pequenina quando se deu o 25 A pelo que o "antes" deve saber por ouvir contar, mas quer comparar o antes e o depois? O seu controleiro vestido à Mao é que lhe pregou uma partida quando a mandou cumprir tarefas revolucionárias para a Praça da Alegria, um dos últimos redutos da resistência na mudança do estatuto das mulheres. Se fosse para lá o controleiro, o gajo passava por chulo e nada se passaria.

João Tunes disse...

Cara Graça Maciel,

Por São Nobre, O Candidato, que melhor legenda para a foto que "os olhares gratos, os sorrisos algo tímidos dos homens que nos deram a liberdade". A escolha era aí que queria chegar: à ironia sobre a transição (e, obviamente, as mulheres que enalteço, as da mudança, ainda não eram as da cafeteira e alcofa, embora tenham desempenhado um papel importante de transição na postura feminina e por isso merecem o destaque que têm nos desfiles ritualistas e anuais comemorativos do 25 A). Obrigado pelo contraponto via clareza da interpretação literal.

Ana Cristina Leonardo disse...

Sei que era pequenina quando se deu o 25 A pelo que o "antes" deve saber por ouvir contar

Ó João Tunes, neste dia glorioso que mesmo assim não deixou de me lembrar que estou 36 anos mais velha (com tudo o que isso contribui para ofuscar a glória), vir alguém dizer-me que eu era pequenina no 25 de Abril e que do "antes" só sei de ouvir contar, apesar de não ser assim tão verdade é música para os meus ouvidos. Ora muito obrigada

João Tunes disse...

ACL, pela escrita não a imagino com mais de 40. Se falhei no cálculo mas fui simpático, o prejuízo não é grande.

Ana Cristina Leonardo disse...

ACL, pela escrita não a imagino com mais de 40.

ora muito, muito obrigada outra vez!