27/11/11

Couves e ruminantes

O Daniel Oliveira acordou muito preocupado com a capa imbecil que o "i" fez sair no dia da greve geral. Para caracterizar o jornal como "folha de couve", ele trata de recorrer ao ponto de vista que lhe é mais natural: o do seu umbigo. Vai daí, importa salientar não a isenção, rigor ou qualidade de conteúdos informativos, mas sim o facto de ali os colunistas escreverem à borla. 
Compreende-se a aflição: se pega a moda de não dar grande valor a uns comentários mais ou menos bem alinhavados mas que na sua maioria não passam de homólogos de anódinas conversas de café... ainda se acaba o ganha-pão ao mais verborreico dos nossos opinadores a metro. 
E o conhecimento do que é uma folha de couve é natural em quem se limita, semana após semana, a mastigar lugares-comuns e ruminar de forma inofensiva e sem surpresas a vulgata certinha de uma certa esquerda bem comportada, incapaz de sair das suas baias mentais. Quanto pagaria eu por semelhante serviço? "Nada" parecer-me-ia uma verba justa. 
Há uma atenuante: servir de enfeite "esquerdalhudo" a um grupo empresarial é tarefa dura, a exigir  boa compensação. Não deve ser fácil para o denunciante Daniel fazer vista grossa a minudências como vermos a "sua" SIC Notícias a descrever agressões de polícias a uma mulher com uma pérola do calibre de "por vezes a distância entre provocação e vitimização é extremamente curta". Mas, desde que os colunistas por ali sejam bem pagos, coisas assim até podem parecer perfeitamente aceitáveis.

12 comentários:

Anónimo disse...

O Daniel Oliveira é uma peça necessária na disciplinada e "plural" máquina capitalista. Enquanto sujeito mediático acaba por servir para a burguesia desarmar o BE (encostando-o ao centro), e assalariando-o bem assalariado nunca lhe dará as mesmas dores da classe que diz representar.

(Acima de tudo, não se dê uma importância ao DO que ele não tem. Felizmente apareceu a blogosfera e muitas pessoas já não consomem diariamente jornais e telejornais fabricados por grupos económicos...)

Luis Rainha disse...

O DO é um subproduto da blogosfera. Durante algum tempo, fez aquilo que agora verbera nos demais: opinar à borla. Depois, deu o salto para o barco do amigo Balsemão e o resultado está à vista...

josé manuel faria disse...

O Daniel Oliveira de modo algum merece um post deste calibre.

Quantos "esquerdistas radicais" trabalham para empresas capitalistas?

Provavelmente todos!

Luis Rainha disse...

E quantos se insurgem contra quem faz o mesmo, dando voz a uma indignação postiça e utilitária? Um.

joão viegas disse...

Ola,

Num lance retorico, porque provavelmente sabe muitissimo bem que a polémica boçal chama a atenção do publico (e ele até é pago para isso, chamar a atenção), o Daniel Oliveira escreveu uma estupidez.

Poderia ser motivo de preocupação, não sucedesse tratar-se de uma estupidez tão obvia, tão manifestamente falaciosa, que não merece que percamos tempo com ela.

Polémica chama polémica e o Daniel Oliveira, como era obviamente de esperar, recebeu a paga na mesma moeda.

Não o soubéssemos de antemão, teriamos aprendido que gratuito mesmo, é o insulto, ainda que haja quem pague bem para armar uma boa peixeirada, como se elas não nascessem de geração espontânea em qualquer esquina.

No passa nada.

A blogosfera, o Daniel Oliveira, a informação séria e até o Luis Rainha costumam estar acima dessas coisas...

Boas

LAM disse...

Como José Manuel Faria, também não acho que DO merecesse esse post.
Aliás não compreendo o que dói a Luis Rainha: se DO ser cronista pago num semanário, se a referência a que os cronistas do I não são pagos, se a crítica à provocadora 1ª página do mesmo I.
(uma pergunta só a que responderá apenas se estiver para aí virado: O Luis Rainha é cronista do I?)

Anónimo disse...

Só aparentemente este fait-divers, prolet-kult,pode parecer de somenos importância ou de ambiciosa futilidade. Pelo contrário,na minha opinião. Nele se joga,exibe, revela e desmonta- à vista desarmada-uma tese soberanade T.H.Adorno : " `Torna-se privilegiado aquele que se adapta melhor a este sistema ".Tudo o resto é bobagem...Niet

Jim Pereira disse...

No blogue “O cão que fuma”: “A manchete que bota pra f…!”
http://www.ocaoquefuma.com/2011/11/manchete-que-bota-pra-f.html

"mediadores encartados e remunerados" disse...

ai , o daniel está a pachecar-se? coitado. espero que saiba fazer mais qualquer coisa para além de "opinar" , é que o pacheco está à beira da reforma , mas ele ainda é relativamente novo. bom , talvez o louçã lhe arranje um lugar de deputado , quem sabe?

Luis Rainha disse...

LAM,
Realmente faltou-me a declaração de interesses nesta parvoíce; mas como até tenho deixado as crónicas que escrevo para o "i" por aqui, cuidei que não faria falta. My bad.
Aqui o que me "dói", quando muito, é a crítica generalizada (e injusta, parece-me) que o DO endereça aos seus colegas da tal "folha de couve", enquanto fecha os olhos ao que se passou, só por exemplo, no "Expresso" a propósito do João Semedo. E arma-se a criatura em paladino da verticalidade e da justiça...
Quanto a mim, não faço (nem nunca fiz, embora já tenha sido pago para tal) da emissão de opiniões mais ou menos bacocas o meu ganha-pão.

LAM disse...

Luís Rainha,
Talvez por distração minha, não sabia que o Luís escrevia para o I. Acho esse assunto menor, embora por certo não seja o desejável que, quem escreve em órgãos de CS pagos, o faça à borla e que assim, e no caso, objetivamente alimente um órgão com uma direção editorial capaz daquelas primeiras páginas - não pensaria assim se fosse esse o ganha pão de quem lá escreve, obviamente.
Mas, como disse no início, acho esse um assunto menor: o que francamente me chateia é que nos insurjamos (incluo-o neste plural) contra a barragem ao acesso de vozes discordantes (mais ou menos radicais, mais próximas ou mais afastadas do pensamento político-ideológico de cada um, isso seria outra conversa), aos órgãos de CS, e depois ao mínimo deslize, frase ou forma de abordagem de determinada questão, malhemos em quem conseguiu furar esse bloqueio. E mais ainda quando isso acontece não com uma legítima contra argumentação sobre a caracterização ou crítica que o outro fez duma situação (eventualmente a situação laboral dos cronistas), ou facto (aquela 1ª página e as opções políticas da direção); mas através de um julgamento de carácter de quem exprimiu essa opinião (como, desculpe, me parece um pouco este post).

Houve e haverá por certo muitas outras coisas mais além do "caso" Semedo, que o DO fará (ou terá de fazer) silêncio.

Luis Rainha disse...

Acho mesmo é que nos basta e sobra um Pacheco Pereira. E ao menos este já tinha alguma obra no CV antes de se assumir como juiz supremo e denunciante de tudo e de todos.
Quanto a isso do bloqueio, acho cómico (ou não, na realidade) que o DO pegue justamente num jornal que até publica alguns comentadores de esquerda. Mas a "crítica" que ele emitiu que me parece algo crápula é a história da "folha de couve", que atinge profissionais que ele devia respeitar minimamente.
O meu julgamento, a haver, prende-se apenas com o silêncio que observo em alguém tão lesto a acusar os demais, acerca de atitudes miseráveis da SCI Notícias e do Expresso. Só isso; quanto ao resto, não quero nem saber.