02/11/11

A farsa revela-se perante todos

Suspeito que o primeiro-ministro grego não anunciou um referendo sobre o conjunto de medidas que negociou com UE/BCE/FMI em troca de mais fundos, porque acredita no princípio basilar da democracia segundo o qual a decisão cabe à maioria. Tal não faz sentido, agora que pretensamente conseguiu um acordo que colocaria a Grécia no caminho da recuperação, e depois de mais de um ano a impôr medidas socialmente cada vez mais gravosas, claramente contra a opinião pública, expressa em gigantescas manifestações, ocupações e sondagens. O que aconteceu, na minha opinião, é que a oligarquia grega concluiu que o país se tinha tornado ingovernável, sendo necessário uma encenação de re-legitimização do sistema político através do voto popular. É aqui que a história se torna interessante, pois claramente à oligarquia grega o que interessava era a antecipação das eleições parlamentares previstas para 2013, que muito provavelmente resultariam numa vitória eleitoral dos conservadores da Nova Democracia: muda-se o bobo da corte para que o espectáculo possa continuar. Mas não é que o primeiro-ministro grego decidiu que não lhe apetecia terminar já a sua carreira política, e resolve antes optar pela via do referendo como meio de re-legitimização do seu governo? Como seria de esperar, as oligarquias grega e europeia entraram em pânico com a possibilidade das medidas que tinham acordado não serem implementadas, e que se resumem a uma tentativa de estabilizar o sistema financeiro, nomeadamente através da garantia de pagamento de 50 por cento do valor da dívida da Grécia aos bancos. A pressão do sistema sobre o primeiro-ministro grego acumula-se agora a um ritmo alucinante. O pânico é tal que os véus que habitualmente encobrem o funcionamento do sistema deixaram de existir, este tornou-se transparente para todos: o sistema democrático em que pretensamente vivemos é um embuste, uma farsa bem elaborada por quem na realidade manda e decide. Não acredito que o referendo venha a realizar-se. É bem possível que antes disso sejam convocadas eleições antecipadas, por exemplo através da rejeição da moção de confiança que o primeiro-ministro grego submeteu ao parlamento e que será votada esta sexta-feira, dia 4. E depois, há sempre a possibilidade dum golpe militar... a solução de recurso para qualquer oligarquia que sinta o seu poder ameaçado.

5 comentários:

O PAPA ARDEU? disse...

não tem nada a perder

se a europa se queimar o problema é dela

logo diplomacia e contratos assinados sobre pressão são para não se respeitarem

se calhar amanhã não vou trabalhar é o último dia...

se calhar amanhã em vez de pagar as contas assalto o banco

se calhar...

amanhã vou fazer chantagem com todos os corruptos que conheço

se calhar resulta?

se calhar

Quando não se tem nada a perder disse...

E tudo a ganhar

não se pensa nos interesses dos outros

pensa-se egoísticamente nos nosssos interesses

federalismo só funciona quando corre bem quando corre mal pegamos na faca e dizemos ou dás a massa ou corto-te

iaaah bacano é isso...
ainda temos vagas (nove vagas vagaram ontem, mas apressa-te que há muitos candidatos)

É um gajo fino não é o Duarte Lima disse...

Chantagear só com referendo

Podia ter levado uma pistola e dado um tiro na alemã

O estilo Duarte Lima é muito mais popular

Ai não dás?

toma lá um balázio

Se acertasse no Sarkozy até lhe levantavam uma estátua

Podiamos levar o Duarte Lima como negociador à próxima cimeira

tem é de ser com imunidade diplomática senão ainda o extraditam

e dar-lhe uma kalashnikov em vez dum revólver porque sempre são 27

e o gajo tem pontaria mas ali há alguns que correm mais do que o sócrates

Anónimo disse...

Oh.Pedro Viana, as coisas em jogo são hiper-complexas e , como se diz nas hostes de Oakland da Occupy Wall Street, o voto não pode resolver já quase nada nesta espiral de terror em que se transformou a dupla crise - económica e financeira- europeia e mundial. O PM grego "bate" no muro e pretende fazer esse " salto mortal " do Referendo em Janeiro de 2012, tentando in extremis pôr em ordem a sua bancada e afastando a direita grega, num primeiro passo, de aceder ao executivo, ela que tinha sido uma das grandes causadoras da derrapagem alucinante das finanças helénicas. O 15° plano de resgate da dívida grega da dupla Merkel-Sarkozy vale o que vale: tenta penalizar os créditos bancários autoctones gregos mas, ironia do destino, despoleta um ataque dos " mercados financeiros " contra a economia italiana, onde as redes bancárias franco-alemãs têm creditos a rondar o trilião de Euros...E existe ainda a incógnita da posição de Washington face à multimoda crise grega,na porta de entrada de um Médio Oriente em hora de inadiáveis mudanças estratégicas.Niet

A.Silva disse...

"Abaixo o governo. Eleições já. Não à descarada chantagem e intimidação ideológica contra o povo. A chantagem não terá sucesso. O anúncio do Primeiro-Ministro sobre o referendo significa que está a ser criado um vasto dispositivo para coagir o povo, através do qual o governo e a UE irão usar todos os meios, ameaças e provocações, a fim de subjugar a classe operária e as camadas populares, para extorquir um sim para o novo acordo.

O referendo vai ser realizado com uma nova lei reaccionária, juntando num mesmo saco, embora diametralmente opostas, as posições do KKE, da ND (Nova Democracia) e outros partidos, enquanto a estratégia do governo se identifica com a estratégia da ND, LAOS e seus fantoches.

Eleições já. A classe trabalhadora e as camadas populares devem impor Eleições e recebê-las com mobilizações de massas em todo o país. A sua acção e voto devem punir fortemente o sistema político burguês, e preparar o caminho para o derrubar da politica anti-popular, o poder dos monopólios.

AGORA O POVO DEVE INTERVIR MAIS DECISIVAMENTE.

O KKE exorta os trabalhadores, os trabalhadores independentes, os jovens de Attica para um comício na Praça Syntagma, sexta-feira 4 de Novembro às 18h. O KKE apela a uma aliança que contribua para que o Povo intervenha mais decisivamente no evoluir da situação."