Em entrevista ao jornal "i", Pedro Carvalho, candidato da CDU à Câmara Municipal do Porto, responde à seguinte questão da jornalista:
«Honório Novo é o candidato da CDU à assembleia municipal. Acha que este apoio vai fazer a diferença na candidatura da CDU?
(...)
Ao trazer Honório Novo, trazemos o compromisso de intensificar o nosso trabalho na assembleia municipal. Ter a sua experiência de intervenção como deputado no Orçamento do Estado e nos fundos estruturais é importante. Estas áreas são centrais para nós, porque queremos captar mais investimento a nível central e mais investimento no quadro comunitário.»
Concordo totalmente que se defenda o reforço de fundos comunitários para o desenvolvimento regional e local. Porém, coloca-se a seguinte questão: qual a coerência de um partido que, em contexto eleitoral, defende a centralidade das transferências de verbas comunitárias mas que, programaticamente (vd. aqui e aqui) se orienta pela «dissolução da União Económica e Monetária»?
É certo que existe aqui um oportunismo eleitoral do PCP. As pessoas sabem perfeitamente que sem os fundos comunitários das últimas três décadas, as condições de vida ainda seriam piores do que já são. Desde as vias de comunicação, programas para a ciência, qualificação da força de trabalho, apoios ao investimento, etc. os fundos provenientes da União Europeia foram imprescindíveis para alguns traços de modernização da sociedade portuguesa. E os eleitores, mesmo os do PCP, sabem disso. No fundo, o partido que se orgulha de dizer que só tem uma cara para as questões europeias, nacionais e municipais, também é o partido que tem a lata eleitoralista de localmente defender a vinda de mais fundos europeus e, nacionalmente, assumir uma via política que acabaria com todo o afluxo de ajudas financeiras e de investimentos para Portugal.
Mas ainda mais importante do ponto de vista político é o facto de que esta linha política só demonstra o quanto as propostas mais nacionalistas e exclusivistas do PCP só fazem sentido em termos puramente ideológicos. Ou seja, em termos práticos e concretos, a reiterada defesa política de uma saída do euro não tem qualquer sustentabilidade real e só iria expandir a austeridade como já se demonstrou em diversos artigos (aqui, aqui e aqui). À pala de querer encontrar mais argumentos para convencer o eleitorado, e à pala de querer apresentar-se como uma força responsável e competente na gestão autárquica, o PCP mete os pés pelas mãos e acaba por assumir involuntária, incongruente mas implicitamente que sem Europa não haverá qualquer tipo de desenvolvimento económico e social possível.
À austeridade europeia, só a articulação europeia de reivindicações concretas por mais emprego, melhores salários e contra a precariedade poderá forjar um movimento social europeu e independente das nacionalidades. E de nacionalismos. Enquanto isso não acontecer, todos os trabalhadores europeus estarão sob o fogo cruzado da austeridade dos capitalistas e dos delírios nacionalistas da esquerda e da extrema-direita.
22/09/13
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13 comentários:
Na mouche, caro.
Um abraço
miguel(sp)
Ironicamente, isto parece-me um elogio ao PCP.
Bom, não é preciso ser comunista para reprovar este tipo de invectiva. Note que escreve o post inteiro a partir de um parágrafo, e desse, é uma pequena parcela que o anima. Não percebo porque não é possível defender as duas coisas - "sim, nós somos pela dissolução da UEM, mas enquanto não tivermos condições políticas para o fazer, temos que jogar o jogo". Explorar a contradição facilmente se reverte: com efeito é a sua posição, revestida de soberania ética, que se ilude face à constituição de unidades de soberania. É que não existirá revisão de tratados capaz de redistribuir a soberania enquanto as nações mais ricas da UE mandarem. Tal é independente da existência de exploração nos seus países, pois trata-se de um "geopolítica de patrões". Ou seja, só denunciado o actual quadro e reentrando nos tratados como país livre e igual se pode fundamentar um verdadeiro internacionalismo proletário.
Anónimo,
se ser nacionalista é um elogio...
Filipe Massarelos,
O que um "país livre e igual" tem a ver com um "verdadeiro internacionalismo proletário"? Desde quando os trabalhadores têm poder de decisão no Estado, seja ele nacional ou europeu? A preferência da esquerda por espaços supranacionais em detrimento dos espaços nacionais tem a ver apenas com um ponto: quanto mais fechadas as economias, pior o desenvolvimento económico, maior o nacionalismo, maior a probabilidade de se constituírem rivalidades e barreiras entre trabalhadores de diferentes países. Ou como já dizia o Marx sobre o assunto:
«nos nossos dias o sistema proteccionista é conservador, ao passo que o sistema do livre-comércio é destruidor. Dissolve as antigas nacionalidades e conduz ao extremo antagonismo entre a burguesia e o proletariado. Em resumo, o sistema da liberdade comercial apressa a revolução social. É exclusivamente neste sentido revolucionário, meus Senhores, que voto a favor do comércio livre».
Outra coisa. É evidente que é um contra-senso alguém querer receber fundos europeus (e que sabe o quão central isso é para a gestão autárquica), e depois defender uma linha programática que acabará com a vinda de todo o financiamento desse tipo. Em vez de se andar com o delírio da saída do euro (que, muito provavelmente, nem sequer vai acontecer) era bem preferível reivindicar o aumento das transferências de fundos compensatórios. Não fosse o nacionalismo existente em praticamente todos os países europeus e a actual crise das dívidas soberanas não teria um décimo do impacto que ocorreu.
Mas é o autor do texto que afirma que o nacionalismo do PC é "idelológico" ou puramente retórico...
Não, o autor diz que a única justificação para a defesa de uma saída do euro é puramente ideológica, na medida em que não há qualquer benefício nem nenhuma base real nesse sentido.
Bem, então não sei o que lhe diga. A posição do PCP é ideológica porque não tem "nenhuma base real". Ao invés, podemos argumentar que quem tem uma base real está a nadar em ideologia, mais não seja por se arvorar porta-voz da realidade. Bem sabe que há muitos não comunistas e não nacionalistas que defendem algo parecido. Bata ter uma leitura do euro e UE mais catastrófica. Lembro-lhe que o argumento da realidade, tal como é, tem sido apresentado como carta branca ao regime para roubar a bel-prazer.
Seguindo a lógica do JVA os comunistas (ou para ser mais rigoroso o PCP) deveriam apelar ao trabalho escravo, pois quem é contra os baixos salários, não deveria aceitar nenhum;
Um estudante comunista nunca frequentaria uma universidade privada, por ser a favor do ensino público;
não andariam de transporte individual, porque são a favor do público,
A justiça deveria ser pelas próprias mãos, porque os tribunais são de uma classe.
e daí sucessivamente ...
À parte do exagero, o exposto é uma metáfora da tese do JVA. Esquece-se, por má fé, o JVA que o PCP é um partido que, apesar de revolucionário e com uma ideia transformadora para a sociedade, actua num quadro-legal, desde logo pelo respeito à CRP, no qual é mister aprofundar e aproveitar todas as alternativas de financiamento, porque as mesmas são em benefício das populações.
De facto, atirar a tudo o que é do PCP e mexe tolhe completamente o raciocínio.
Depois dizem que sectários somos nós.
Então afinal vocês assumem que os fundos vindos da Europa já permitem o desenvolvimento e a melhoria da vida das populações? É que quem vê e ouve as declarações do PCP só encontra posições que consideram a UE como uma espécie de grande satã e da qual nada de positivo virá. Se os fundos são positivos então para que serve a solução de saída do euro que acabaria com esses fundos, bem como de outras formas de financiamento e de investimentos?
Não desconverse, que não é intelectualmente honesto. Os fundos são um meio de financiamento como outro qualquer (tal como o crédito bancário, e não é por não apreciar particularmente o capital financeiro que nós, os comunistas, nos podemos dar ao luxo de não recorrer ao mesmo).
Se quer que lhe responda em termos macroeconómicos dir-lhe-ei que estaríamos em condições de os dispensar, não fosse a contribuição que o país paga à agiotagem da UE, sem perda de soberania (o que para si seria um grande problema, pois lá se ia a tese).
Com o seu nível de argumentação desde já lhe digo que não falta muito para afirmar, com a concordância serôdia do MSP, que só é comunista quem não pode ser capitalista.
Já agora, caso não saiba, há países na UE que beneficiam dos fundos e que não aderiram ao Euro.
RG,
que é que você percebe de internacionalismo quando você ainda há meses escreveu o seguinte: «Isto seria assim, se a realidade não fosse, por exemplo, os trabalhadores do norte, pela acção da sua oligarquia dominante, serem beneficiários do empobrecimento dos trabalhadores dos países do sul. Só isto faz toda a diferença e por essa razão a luta dos trabalhadores é também a defesa no seu quadrado» (vd. comentário seu aqui http://5dias.net/2012/11/21/o-euro-e-as-colonias-por-pedro-lains/comment-page-1/#comment-474236).
E quando você fala em agiotagem faz-me lembrar os fascistas que só sabem falar do capital financeiro mas nunca do capitalismo: http://passapalavra.info/2012/08/62764
Para terminar. Você acha mesmo que os seus comentários valem alguma coisa? De você não se lê nem um artigo nem nada de substantivo e argumentado para além das meras directivas contra a agiotagem, pelas soberanias e essas baboseiras proto-fascistas. Mas de que adianta alertar contra os perigos que vocês fomentam para a difusão do nacionalismo, se toda a vossa perspectiva só tem viabilidade unicamente no plano ideológico e da distorção mental?
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