24/09/13

António Ramos Rosa (1924-2013)


Não posso adiar o amor

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.

Viagem Através de uma Nebulosa, 1960.

2 comentários:

Anónimo disse...

O meu saudoso amigo Ramos Rosa construiu a golpes de ética e inteligência, de honradez e humildade soberana, um lugar supremo na " selva poética "( Jorge de Sena) nacional, a ombrear com o autor da Peregrinatio ad loca..., Casais Monteiro, Sofia e Rui Belo. Exemplo admirável, o da vida e obra de Ramos Rosa - como se " expõe " na correspondência com Sena - de como a leitura e a meditação teórica de alto rigor e o trabalho poético constituem marcas essenciais para construir a grande poesia do Mundo. Niet

platero disse...

vivo na Igrejinha, próximo de quem fala de si com manifesta admiração cultural - o poeta (bom)- Carlos Mota Oliveira
julgo que está agora de visita a Rodes

tomo a liberdade de enviar poema que escrevi ontem - na morte de António Ramos Rosa

NA MORTE DE ANTÓNIO RAMOS ROSA

a morte sabe o que faz
- ninguém se iluda

quarenta exatos anos após
no mesmo dia exato

em que vieste
buscar

NERUDA

abraço para si, mesmo sem o conhecer