A respeito deste assunto (e da sua ligação com o funcionamento de uma sociedade socialista libertária) ainda hei-de de escrever mais qualquer coisa.
No entanto há num ponto que eu gostaria de frisar - efectivamente, o "ecologismo" (ou talvez seja mais correcto dizer o "ambientalismo" - a "ecologia" é uma ciência que estuda os equilíbrios naturais, sem fazer necessariamente qualquer juizo de valor sobre eles, sendo "ambientalismo" a defesa ideológica da preservação da natureza; mas na prática a "ecologia" como campo de estudo é fortemente dominada por "ambientalistas", o que mistura um pouco os conceitos) tende (ou tendia) historicamente a vir associado a uma critica ao mundo urbano e à industrialização - o ecologismo/ambientalismo de direita (exempos: o Gonçalo Ribeiro Telles; os Southern Agrarians nos EUA) é claramente pró-agricola (com um evidente sub-texto pró-feudal); já o ecologismo/ambientalismo de esquerda muitas vezes tende a romancear é as sociedades de caçadores/recolectores (e a idealizar o seu carácter de sociedades sem Estado e com chefes com pouca autoridade formal).
Mas a verdade é que em muitos aspectos (e sobretudo assumindo um dado nível populacional) as cidades (e quanto mais "cidades", isto é, mais densas, melhor) são muito mais "ambientalmente sustentáveis" que o "campo", por duas razões (fortemente ligadas): a construção em altura permite alojar muito mais gente ocupando menos superficie de solo; e a alta densidade populacional também torna muitos menos necessário o uso de automóvel (logo, menos poluição), quer por, estando as coisas mais perto umas das outras, é mais fácil ir a pé, quer porque a maior concentração de pessoas torna mais fácil montar uma rede de transportes públicos.
Diga-se que recentemente algum ecologismo/ambientalismo tem abandonado o seu anti-urbanismo tradicional e, pelo contrário, vindo a abraçar o mundo urbano de alta densidade populacional. Sobretudo nos EUA, parece-me que a defesa da preservação da natureza tende a vir cada vez mais associado a posições "pró-urbanas" como a oposição ao "sprawl" e a defesa de movimentos como o "new urbanism" e as "walkable communities".
Imagino dois motivos para essa transição: em primeiro lugar, a partir do momento em que o ecologismo/ambientalismo deixa de ser património exclusivo de românticos e se começa a procurar politicas concretas para proteger a natureza, conclui-se que realmente em muitos casos as grandes cidades podem ser muito menos danosas para o ambiente; e, no caso norte-americano, não tenho dúvidas que a guerra cultural entre os Blue States (urbanos e progressistas) e os Red States (rurais e conservadores) também contribui muito para isso, fazendo com que os ecologistas/ambientalistas (residentes maioritariamente nos Blue States) descubram um novo entusiasmo pelas grandes metrópoles.
14/09/13
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2 comentários:
O equilíbrio cidade - campo
Miguel Madeira está a romancear a realidade das grandes cidades e ocultando o que são as megalópoles, basta ler o que diz:
«Mas a verdade é que em muitos aspectos (e sobretudo assumindo um dado nível populacional) as cidades (e quanto mais "cidades", isto é, mais densas, melhor) são muito mais "ambientalmente sustentáveis" que o "campo", por duas razões (fortemente ligadas): a construção em altura permite alojar muito mais gente ocupando menos superficie de solo; e a alta densidade populacional também torna muitos menos necessário o uso de automóvel (logo, menos poluição), quer por, estando as coisas mais perto umas das outras, é mais fácil ir a pé, quer porque a maior concentração de pessoas torna mais fácil montar uma rede de transportes públicos.»
Muitas das ideias sobre cidades verdes, redes de pequenas e médias cidades, e de um mundo urbano à escala humana foram formuladas por urbanistas e pensadores desde o século XIX e são as que mais se aproximam da reflexão libertária. As megalópoles, as grandes empresas e as grandes instituições não potenciam o auto-governo e a autogestão, e isto parece-me claro. Esta é a questão central. Mas parece que de alguma forma as ideias «desenvolvimentistas» e do «progresso» imparável tão caras à burguesia empreendedora toldam a vista a uma certa esquerda.
É o retorno da velha questão de Marx&Engels acharem que os anarquistas, como pequeno-burgueses, o que queriam eram manter o artesanato...
o post está cheio de afirmações que, para serem levadas a sério, têm de ter uma (preferencialmente várias) referências bibliográficas credíveis que as sustentem.
o miguel madeira apresenta zero referências!
"o ecologismo/ambientalismo de esquerda muitas vezes tende a romancear é as sociedades de caçadores/recolectores" - Fonte desta afirmação? O que é "muitas vezes"? Duas em vinte? Noventa em cem?
"as cidades (e quanto (...)mais densas, melhor) são muito mais "ambientalmente sustentáveis" que o "campo"" - Fonte desta afirmação? E definir "cidades" e "campo"? E como é que a "cidade" ou o "campo" podem ser "sustentáveis"? Quanto muito, as práticas quem os constrói, usa, habita é que podem ser avaliadas quanto à sua sustentabilidade.. A dicotomia não é entre "cidade" e "campo", mas entre práticas sustentáveis e insustentáveis. Não perceber isto e publicar o post (sem referências..) é revelador de uma "secret agenda", ou então da mais pura ignorância.
"a alta densidade populacional também torna muitos menos necessário o uso de automóvel (logo, menos poluição)" - Fonte para esta afirmação? E a construção dos edifícios não consome energia? E a sua utilização e manutenção? O Miguel Madeira está a comparar exactamente o quê? Cidades com baixas densidades populacionais com cidades com altas densidades populacionais? E depois conclui que "as cidades (...) são muito mais "ambientalmente sustentáveis" que o "campo"" (as aspas são do Miguel Madeira).
"recentemente algum ecologismo/ambientalismo tem abandonado o seu anti-urbanismo tradicional e, pelo contrário, vindo a abraçar o mundo urbano de alta densidade populacional" - Fonte para esta afirmação? O canal Discovery? Entre dois documentários sobre tubarões que não existem falaram sobre ambientalismo?
"a defesa da preservação da natureza tende a vir cada vez mais associado a posições "pró-urbanas" como a oposição ao "sprawl"" - Fonte desta afirmação? Ser contra o modelo de desenvolvimento urbano designado por "sprawl" é muito diferente de se terem "posições "pró-urbanas""..
"a partir do momento em que o ecologismo/ambientalismo deixa de ser património exclusivo de românticos" - ??? Um juízo de valor com um preconceito à mistura fica sempre bem..
"procurar politicas concretas para proteger a natureza, conclui-se que realmente em muitos casos as grandes cidades podem ser muito menos danosas para o ambiente" - Fonte para esta afirmação? Isto tem de ser bem sustentado. A comparação é entre "cidades" e o quê? Entre Los Angeles e Adofreire no Gerês? Ou entre Los Angeles e Zurique? O que o está em causa, mais uma vez, não é "cidade" vs "campo", mas práticas e modelos de urbanização e vivência urbana sustentáveis vs práticas insustentáveis. Distorcer isto para "cidade" vs "campo" é, no mínimo, ridículo.
o futuro a curto/médio prazo (50-100? anos), pelo menos enquanto houver energia "barata", passa por um aumento da população nos meios urbanos e uma redução da população nos meios rurais. Os ambientalistas (e os ecologistas) sabem isto melhor que ninguém e o que pretendem é desenvolver e implementar práticas sustentáveis de desenvolvimento, independentemente de ser no campo ou na cidade.
Este post do Miguel Madeira é completamente disparatado. Por favor, Miguel, desliga a televisão, estuda e.. o canal Discovery não deve ser a tua fonte de inspiração para posts..
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