28/10/10

A esquerda e o "nacionalismo económico"

No "Ladrões de Bicicletas", Nuno Teles escreve:
sabemos, pela experiência histórica e sem ilusões sobre as motivações idealistas e nacionalistas de List, que este estava certo na sua análise do desenvolvimento industrial, nomeadamente na existência de economias crescentes à escala na indústria (uma ideia recusada pela economia clássica e neo-clássica) e na necessidade de protecção para o desenvolvimento industrial.
Eu tendo a concordar que (da perspectiva de um país, não necessariamente na da humanidade no seu todo) que as politicas proteccionistas fazem sobretudo sentido quando aplicadas a sectores com economias crescentes à escala (e, já agora, acrescento que, quanto mais tecnologia-intensiva for uma economia, maior peso terão as economias de escala - o custo de desenvolver o iPad é o mesmo quer se venda 1000 ou um milhão de unidades).

Mas isso levanta uma questão, que acho que sobretudo a esquerda não pode descurar - quase por definição, os sectores da economia onde há mais economias de escala são os sectores dominados pelo "grande capital" (não é obrigatório que assim o seja - em teoria podemos ter um grande capitalista possuindo uma porção de micro-empresas, e também podemos ter uma grande empresa dividida entre uma multidão de pequenos accionistas, sem nenhum ser "accionista de referência"; mas na prática a primeira situação é quase inexistente e a segunda também não é muito vulgar).

Portanto, se uma "politica industrial" em principio será uma politica dirigida aos sectores com economias de escala, isso não implicará que essa tal "politica industrial" (se for feita no contexto de uma economia capitalista) acabe forçosamente por ser uma politica que, em primeiro lugar, beneficiará sobretudo os grandes capitalistas?

Aliás, os exemplos de países que mais activamente fizeram essas "politicas industriais", como o Japão ou a Coreia do Sul, são exactamente exemplos de economias (pelo menos até há pouco tempo) dominadas por poderosos grupos económicos em aliança com os escalões superiores do aparelho de estado. Será também grande exemplo?

[uma observação final em semi-defesa da economia clássica e neo-clássica: creio que nunca estes ramos da economia recusaram a ideia de economias de escala; é verdade que os neo-clássicos têm uma característica que os levaram na prática a "esquecerem-se" das economias de escala: a economia neo-clássica assenta na formalização matemática, e até há pouco tempo era difícil fazer cálculos e sistemas de equações com economias de escala, pelo que a tendência era evitar essa área - só com o desenvolvimento e acessibilidade dos computadores começaram a aparecer modelos neo-clássicos com economias de escala; mas na teoria desde há muito tempo que os neo-clássicos conhecem as economias de escala]

1 comentários:

Tiago disse...

Steve Jobs vs nacionalismo económico (ou lá o que querem chamar)?

mas há alguém que tenha dúvidas do que é melhor? pelos vistos ainda há...