27/10/10

Jugular a reivindicação de cidadania democrática, precarizar a liberdade, reforçar a oligarquia

Sobre o caso dos jovens da JCP detidos por agentes da PSP, levados para uma esquadra, injuriados e forçados a despirem-se, que já aqui referi, Fernanda Câncio — em vez de exigir a responsabilização dos agentes, de denunciar a repetição dos atropelos e sevícias que as forças de segurança têm vindo a protagonizar em diversos teatros de acção, de propor, por exemplo, a instalação de câmaras de vídeo nas esquadras, permitindo o controle permanente de advogados e comissões de defesa dos direitos e liberdades, etc., etc. —   interroga-se sobre a legalidade da acção de pintura mural a que os jovens se dedicavam, tece considerações sobre a a gestão da informação pelo PCP, desculpa o silêncio observado pelos grandes meios de comunicação social sobre o assunto, repete duas ou três coisas sobre a natureza tirânica (indubitável) de regimes que gozam das simpatias do PCP, tudo isto para atenuar a gravidade do crime policial e desviar a atenção do que realmente conta no caso em apreço.
Pouco antes, também no Jugular, Rui Herbon, pelo seu lado, defendia, num post pedante e confuso, a necessidade de continuar a punir os pobres, fazendo-os pagar o grosso das medidas de austeridade, para salvar, para uma estreita camada de privilegiados, o Estado-Providência.
Aproximando os dois textos e procedendo à sua leitura cruzada, obtemos uma ilustração particularmente expressiva do credo e directivas programáticas da oligarquia dominante: reforçar as prerrogativas penais e dos agentes do monopólio da violência legítima contra os direitos e liberdades dos cidadãos que constituam obstáculos ou pareçam incompatíveis  com a optimização do funcionamento da economia estabelecida por afectarem a sua "iniciativa" ou contestarem a ordem política e formas de governo que o livre exercício dessa iniciativa dirigente requer. Não é fácil encontrar propósitos mais firmes do que os destes dois ideólogos de jugular a reivindicação de cidadania democrática ou de absolutizar os poderes da oligarquia.

2 comentários:

Nuno Ramos de Almeida disse...

Excelente post.Lapidar.

Justiniano disse...

Ora, caro MSP, nem isso!! Creio que aqueles apenas se entregam a um exercício de pura instrumentalidade e tacticismo pueril e interessado (interesseiro). "o partido e o governo" Nao creio que o pensamento meditativo crítico por lá perpasse sob a forma de consciencia sobre o desvalor em questão! Eu diria que não passam da soberba e da tolice!! Tontos!!