25/10/10

Fariñas e o Prémio, desde Cuba

Da cubana Yoani Sánchez:

É difícil imaginar que dentro do corpo fraco de Guillermo Fariñas, sob seu rosto sem sobrancelhas, exista uma vontade à prova de desânimos. Também surpreende que nos momentos de maior gravidade para a sua saúde não tenha deixado de estar atento aos problemas e dificuldades dos que o rodeiam. Inclusive agora, com a vesícula extirpada e uns dolorosos pontos cirúrgicos que lhe atravessam o abdômen, sempre que o chamo, em lugar de se queixar, pergunta-me pela família, pela minha saúde e sobre a escola do meu filho. Que maneira de viver para os outros tem este homem! Não foi por nada que fechou a boca aos alimentos para conseguir que 52 presos políticos – dos quais muitos não conhecia – foram libertados.

Há prémios que prestigiam uma pessoa, que jogam luz sobre o valor de seres desconhecidos até ontem. Mas também há nomes que dão brilho e gratificação e neste caso, o Sakharov outorgado a Fariñas. Depois deste Outubro os próximos homenageados com o laurel máximo do Parlamento Europeu terão um motivo a mais para se sentirem orgulhosos. Porque agora tem realce maior graças ao que este villaclarenho obteve, entregando aos demais, este ex-militar que renunciou às armas para voltar-se à luta pacífica.

Quem melhor que ele, que se propôs uma meta imensa e a conseguiu, que deu a todos uma lição de inteireza e submeteu seu corpo a dores e privações que lhe deixaram sequela por toda a vida. Nenhum nome mais adequado para ser incluído na mesma lista onde estão Nelson Mandela, Aung San Suu Kyi e as Damas de Branco do que o deste jornalista e psicólogo cuja principal característica é a humildade. Uma lhaneza que nem os microfones de todos os jornalistas que o entrevistaram neste dias, nem as luzes das câmaras conseguiram mudar. Com essa simplicidade que seus amigos tanto admiramos nele, Coco – porque até seu apelido é humilde – conseguiu que o prémio Sakharov pareça muito mais importante.


(publicado também aqui)

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