19/10/10

Gorgulho e preconceito

Dentro da latrina mais ou menos generalizada que é o jornalismo em Portugal, existem alguns recantos especialmente insalubres: os jornais gratuitos (isto ignorando por agora um caso realmente fétido como o Jornal da Madeira). Mas se a leitura daquelas migalhas de informação a decorar anúncios e encartes já é penosa, o que em tais paragens passa por opinião desafia o entendimento.
Por exemplo, o Destak de hoje inclui um editorial de Isabel Stilwell sobre umas desabridas declarações de um juiz, mal disposto com o esbulho a que o Orçamento o vai sujeitar. Para salientar a indignação que a acometeu ao ler a diatribe de António Martins, a senhora Stilwell resolveu recorrer aos seus dotes literários. Sim; inventar um símile seria bom. E qual o caminho mais fácil? Claro; recorrer ao preconceito e à ignorância. Nunca falha. Leiam  isto e estremeçam: «mais valia anunciarem já que nos geminamos com o Botswana».
Ou seja: se queremos invocar uma choldra ainda mais badalhoca do que a nossa, recorramos a África. Se procuramos um exemplo de desvario, impunidade, abuso crónico de poderes, etc., temos ali em baixo um continente inteiro mesmo à mão. Imagino a cena projectada nas meninges inflamadas da senhora directora: zulus de tanga que mal saem do restaurante onde devoraram mais um missionário se põem a defecar no meio da rua. Isto enquanto dão uns tiritos numa qualquer guerra civil e tratam de se locupletar com a caridade do branco que lá longe organiza banquetes para comprar géneros de nomes impronunciáveis. E pensem: "Botswana" não soa mesmo a coisa primeva e nada recomendável? Está na cara que deve ser terra povoada em exclusivo por émulos de Idi Amim e Bokassa.
Asneira. Por acaso, o Botswana é uma das nações africanas menos tumultuosas e em mais rápido desenvolvimento; é um país que tem sabido cuidar dos seus cidadãos, apesar da escassez de recursos. E até tem feito progressos na luta contra o seu maior inimigo: a SIDA.
A bem da verdade, palpita-me que devíamos trocar o nosso quase-engenheiro pelo presidente Ian Khama. Parece-me indivíduo bastante mais honesto, capaz, culto, ponderado, previdente e impoluto do que o traste que nos calhou na rifa. Mas, a bem da verdade, isso aplica-se a quase toda a gente que conheço.

4 comentários:

Anónimo disse...

por favor....

Justiniano disse...

Sim Rainha, o Botswana é uma grande excepção em África. Por tal o exemplo apontado pela senhora é, para além de sobremaneira injusto, ignóbil!!

Anónimo disse...

"Imagino a cena projectada nas meninges inflamadas da senhora directora: zulus de tanga que mal saem do restaurante onde devoraram mais um missionário se põem a defecar no meio da rua. "

LOL LOL LOL :)

Rainha, no seu melhor!!

Anónimo disse...

Coincidência incrível, Justiniano. :O