06/10/10

Guennadi Ianaiev (1937-2010), coveiro da URSS e do PCUS

A associação imediata relacionada com Guennadi Ianaiev (ao centro, na foto), agora falecido na Rússia, é a de que se tratou de um individuo que pertenceu ao "grupo" dos grandes desleais. De facto, enquanto Vice-Presidente da URSS, chefiou o golpe que visava destituir Gorbatchov da presidência da URSS e da direcção suprema do PCUS (em Agosto de 1991). Um equivalente à traição praticada por Pinochet contra Allende, em 1973, utilizando a posição de Chefe das Forças Armadas Chilenas.

Já na fase terminal do regime comunista, em que a inépcia trapalhona dos golpistas foi evidente, Ianaiev tomou a cabeça do golpe mais pelo grau da sua posição na hierarquia da URSS que pela sua aptidão para efectivar golpes de estado em que mostrava que esta competia com a apetência pelo consumo imoderado de vodka. Visando o recuo da perestroika através de um neo-brejnevismo (mas que levou, antes, ao fim da URSS e do PCUS), Ianaiev (que fizera carreira no PCUS nas mais altas responsabilidades, nomeadamente à frente das Juventudes e dos Sindicatos) deu a cara juntamente com outros cabecilhas: Vladimir Krioutchkov, chefe da KGB; Dimitri Yazov, ministro da Defesa; Boris Pugo, ministro do Interior.

Em termos objectivos, Ianaiev, com o golpe falhado de que foi formalmente o seu chefe, reparte com Ieltsin (que cavalgou o contra-golpe), ambos a cilindrarem Gorbatchov, a responsabilidade política pelo fim da URSS e do PCUS, bem como o fechar de portas do sistema comunista mundial. Quem certamente não contava com o desfecho verificado no golpe dos aparatchicks soviéticos foi a direcção então instalada no PCP e que precocemente embandeirou em arco e emitiu, logo a seguir à conferência de imprensa dos chefes golpistas, um comunicado da sua alta direcção exprimindo a confiança na vitória dos golpistas (comunicado este que provocou a repulsa de muitos militantes do PCP, tendo havido inclusive um grupo que tomou posição pública contra o seguidismo do PCP relativamente aos golpistas soviéticos – na linha do que o mesmo PCP havia feito em 56 com a invasão da Hungria, em 68 com a invasão da Checoslováquia, em 79 com a invasão do Afeganistão, em 80 com o estado marcial na Polónia - e a que a direcção do PCP respondeu com a expulsão do partido).

(publicado também aqui)

1 comentários:

Para a Posteridade e mais Além disse...

em termos objectivos
tentou fazer o que os chineses
tinham conseguido com o
pequeno massacre de Tienamen
salvar um regime

cuja crise de confiança no sistema seria a breve trecho fatal
exemplo alemão
e a principal forma de lidar com o inevitável seria o golpe de estado
e o retorno do status quo

nada parecido com Pinochet
pretendia-se o regresso à ortodoxia

e não uma mudança de regime