24/08/10

Cegueira selectiva

Há mesmo por aí quem se amofine com os protestos contra a lapidação de Sakineh por imaginar que «essa via vai apenas contribuir para que mais cedo que tarde chova fósforo branco no céu de Teerão». Fazendo de conta que só existe mesmo um imperialismo de miras apontadas para Teeerão, esquecendo a Rússia imperial de Putin, fica aqui uma petição, já com mais de um milhão de assinaturas: «In spite of Human Rights Charts proclaimed and signed by States, this sentence is still enforced for women in countries like Iran, Afghanistan, Pakistan, Saudi Arabia and Africa.» Incluindo amigos, inimigos, protegidos e indiferentes. Está bom assim, ou é melhor ficarmos todos caladinhos para ver se o fósforo branco se apaga?

5 comentários:

Anónimo disse...

És mau...
O imperialismo russo está um bocado... vá, com falta de ego.

Quanto à petição, e ao redundante, "...e África", é capaz de não ser boa publicidade. Falam de Angola, da África do Sul ou da Tunísia?

Renato T.

Luis Rainha disse...

Acho que têm em mente mais a Somália, a Nigéria ou o Sudão.

jpm disse...

Eu também abomino teorias da conspiração, acho o regime iraniano absolutamente desprezível e a lapidação uma barbaridade contra a qual se deviam levantar todos e mais alguns. Parece-me que o protesto é, mais do que legítimo, inteiramente justo.
Posto isto, acho mesmo que isso não invalida que haja quem esteja a cavalgar este processo para demonizar o inimigo, o processo é clássico. Sempre foi assim e continuará a ser. Por isso, depois de me repugnar, fico com medo de que isto seja um prelúdio de qualquer outra coisa. Assim de repente, parece-me perfeitamente plausível apoiar o protesto e mesmo assim ficar alerta. Porque por exemplo, no caso do Irão, todos os dias temos uma nova notícia, temos protestos, etc. Passou-se isto na Colômbia e zero
http://ireport.cnn.com/docs/DOC-480495.
Não quero sugerir nenhuma incompatibilidade entre indignações, acho-as conciliáveis, mas dá-se-me uma tremenda coceira que a humanidade possa ignorar espectacularmente uma coisa deste género e questionar o porquê de tratamentos tão, mas tão, diferentes.

Luis Rainha disse...

Tem alguma razão. Mas olhe que nos EUA as valas comuns de Macarena até são comentadas...
http://www.huffingtonpost.com/kelly-nicholls/mass-graves-and-alleged-e_b_660158.html

jpm disse...

Também não a queria toda. E sim, comenta-se nos EUA mas teria a sua piada fazer uma contagem de quantas notícias se fizeram sobre cada um dos assuntos. Troque colombianos por kosovares, curdos ou budas e lá vinha a horda dos justiceiros. No Irão, só me assusta a sincronia dos protestos com as promessas tresloucadas dos pistoleiros de Israel. E não, não estou a dizer que quem está com os protestos é um lacaio do imperialismo ou um cão de guarda do sionismo ou outro desses mimos. Digo que me causa algum desconforto pensar que estou a manifestar o meu repúdio por uma indignidade e, sem querer, poder estar a contribuir para uma maior (em quantidade). Já aquando dos protestos em teerão o ano passado, estavam a ser massacrados quechuas no perú e, mais uma vez, foram totalmente ignorados.