17/08/10

Da "ética da responsabilidade" de Lula à "ética da responsabilidade e meia" do Führer Mahmud Ahmadineyad

À vontade de Lula de não criar problemas ao Irão - entenda-se ao regime do Führer Mahmud Ahmadineyad - acaba por valer da parte do ditador iraniano uma expressão de amável reciprocidade: também Mahmud Ahmadineyad não quer criar problemas a Lula, extraditando para o Brasil Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por adultério e correndo o risco de ser lapidada a qualquer momento: "Creio que não há necessidade de criar problemas a Lula enviando-a para o Brasil" - afirmou ontem (16.08.2010) Ahmadineyad, numa declaração televisiva.

El presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a finales de julio, ante las presiones que le llegaron a través de Internet de varias redes sociales para que se interesara para salvar de la muerte por lapidación a Sakineh, en un primer momento, se mostró contrario a intervenir aleganado que "si un país pasa a desobedecer a su leyes para atender las peticiones de otros líderes mundiales, podría crearse un caos". Días más tarde, durante un acto de la campaña electoral en Curitiba, Lula volvió atrás con estas palabras: "Si mi amistad con el presidente de Irán y el respeto que tengo por él vale algo, y si esta mujer le está creando problemas, la recibiremos aquí de buena gana".
El 3 de este mes de agosto, el portavoz del Ministerio de Relaciones exteriores de Irán, Ramin Mehmanparast, comentó: "Lula tiene un temperamento muy humano y emotivo y probablemente no ha recibido informaciones suficientes sobre este caso".
Siguieron un rosario de afirmaciones y desmentidos por parte de las diplomacias brasileñas e iraní. Brasil insistió en que pidió formalmente la extradición de la joven condenada a muerte. Irán lo negó alegando que no fue pedida por escrito. El ministro de Asuntos Exteriores de Brasil, Celso Amorim, respondió que bastaba una petición verbal y que esa había sido hecha.
Ayer, el presidente iraní zanjó definitivamente la cuestión: Sakineh no irá a Brasil. Y añadió enigmático y frío: "La cosa será resuelta". Cómo sólo lo sabremos dentro de algunos días
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Sobre a natureza da "ética da responsabilidade" invocada pelos dois governantes, inútil acrescentar seja o que for. Esperemos não ter de ver os que aplaudiram o gesto de Lula, ou apostaram na sua eficácia, considerar uma vitória a eventual substituição do método do apedrejamento pelo da forca na execução da sentença que condenou à morte Sakineh Ashtiani.
Entretanto, ainda é tempo, para quem não o tenha feito, de assinar a petição da Amnistia Internacional, aqui divulgada há dias.

2 comentários:

Justiniano disse...

Caríssimo MSP, não creio que o apelo de Lula, sobre o que, aliás, já falámos em post anterior, se funde no comedimento respeitoso face ao Governo do Irão...muito pelo contrário!! O tom de aparente misericordia cria um maior embaraço que qualquer censura empregue por outro qualquer Governo!! Basta ver os efeitos que teve o apelo de Lula!! (E os que terá e que querem ser evitados pelo Governo Iraniano)
Sinceramente não estou certo que Lula venha a ter sucesso, mas estou certo que o eventual insucesso esclarecerá muito acerca do futuro das relações do Irão com o mundo em desenvolvimento!!!

Miguel Serras Pereira disse...

Desacordo radical, embora amistoso, meu caro Justiniano. Não se pode guardar o bolo e comê-lo. Aqui, estou com o nosso amigo comum Luis Rainha: "Se pudesse, nem sei o que faria à 'resistência islâmica'" ( ver: http://5dias.net/2010/02/24/se-pudesse-nem-sei-o-que-faria-a-resistencia-islamica/ ). Ou com o Manuel António Pina ( ver: http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1630247&opiniao=Manuel%20Ant%F3nio%20Pina ) - que, de resto, lembrava, há menos de um mês, na sua crónica: "Ou muito me engano ou nenhum dos partidos que, em Portugal, fazem bandeira política da igualdade e dignidade das mulheres (e dos direitos humanos em geral) se manifestou ainda sobre a condenação, no Irão, à morte por apedrejamento de Sakineh Ashtiani, de 43 anos, acusada de alegado adultério".

Obrigado por me ter permitido precisar a minha posição, interpelando-me com a amabilidade de sempre

msp