22/08/10

Como combater a burocratização dos movimentos sociais

O Passa Palavra publica um importante documento de reflexão e análise sobre os movimentos sociais que lutam pela "constituição consciente de novas relações sociais, solidárias, igualitárias e autónomas" e sobre a necessidade de porem no primeiro plano das suas práticas e preocupações o combate contra a burocratização.
Se o "grande desafio é a generalização das relações solidárias e colectivas estabelecidas diretamente na base dos movimentos sociais" - ou seja, a exigência de uma organização democrática da luta pelo auto-governo do conjunto dos cidadãos e, por conseguinte, pela democratização radical do processo de tomada de decisões que a todos vinculam, superando a dicotomia classista e hierárquica entre governantes e governados -, parece-me, todavia - e é esse o grande reparo de princípio que penso poder e dever formular-se a um texto que, de resto, subscreveria praticamente na íntegra -, um tanto inconsistente querer manter a identificação dos agentes do combate instituinte das "novas relações sociais, solidárias, igualitárias e autónomas" com uma classe ou bloco de classes ou fracções de classe definidos como instância privilegiada da transformação. Com efeito, os próprios autores do documento, quando recorrem à noção de "movimentos sociais" e estabelecem a partir dela a sua análise e propostas, acabam, creio, por dar implicitamente razão à crítica aqui formulada. Para que a actividade instituinte de uma sociedade que mereça o nome de "socialista" - ou "democrática" - se aprofunde, expanda e desenvolva, substituindo o exercício governante da cidadania activa e universal aos aparelhos hierárquicos e classistas do Estado e da direcção da economia oligárquicos que hoje nos governam, são necessárias a participação e a vontade da imensa maioria das mulheres e homens nossos contemporâneos, e o que conta, bem mais do que a identidade de classe de partida deste ou daquele colectivo em acção, são as formas e os modos de querer e participar dos implicados em cada iniciativa ou resistência concreta.
Feita esta reserva, considerem-se com atenão, debatam-se e difundam-se as grandes ideias que organizam este texto - as quais correspondem, de certo modo, a uma actualização e versão desenvolvida dos Pontos de Partida que constituem a plataforma do Passa Palavra.

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