16/08/10

E como não há duas sem três...

A Mlle Câncio julga recordar um episódio em que o Miguel Serras Pereira terá menorizado o interesse dos blogues: «era uma estupidez haver blogues porque a escrita exigia 'tempo para pensar', e 'reflexão' e mais não sei o quê o que a seu ver não seria compatível com a possibilidade de uma pessoa escrever e publicar na net.» Agora, imagine-se, o feroz crítico «começou a escrever em blogues». Ele há malta cá com um topete!
É verdade: há quem mude de opiniões em 4 anos. Quem, por exemplo, nutrisse «a mais elevada admiração» por Pacheco Pereira para depois nele denunciar «píncaros de desvergonha e desonestidade» e até demonstrações de uma «notável ausência de inteligência».
Pois é: de 2006 para agora, muita coisa mudou.

3 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Luis,
boa parte das razões que, solidárias em grande parte com as do Eduardo, exprimi (mas sem a indignação, creio, que me é imputada pela FC) a propósito da blogosfera, na sessão referida pela nossa fracturante interlocutora, continuam a parecer-me válidas.
Tenho-o dito muitas vezes - embora sem me referir ao debate na Casa Pessoa - desde que há coisa de um ano comecei a arriscar-me a escrever em blogues. O que se passa é que, apesar de tudo, fui levado a pensar que poderia valer a pena ensaiar a criação de espaços de reflexão informal, de proposta e confronto de opiniões sobre a diversidade do mundo da vida e das instituições, na blogosfera - contribuindo para a sua transformação, etc., etc.
Tendo, por isso, a conceber hoje o tipo de blogue que me interessa nos termos em que o escrevi, em finais do ano passado, numa caixa de comentários de já não sei que post do 5dias - ou seja como
"uma espécie de café ou de tasca onde aparecemos para discutir isto e aquilo e trocarmos ideias e experiências. A multiplicação destes espaços colectivos informais é politicamente prometedora, na perspectiva em que me coloco. Com efeito, o espaço de uma ágora aberta e não tutelada, a informalidade dos contactos e conversas na esfera da convivência, dos usos e costumes, são condições necessárias – ainda que não suficientes à falta de vontade política explícita – da afirmação, no espaço público formal de deliberação e decisão, daquilo a que chamo a cidadania governante, enquanto forma de poder político que convém à autonomia".
Assim, os pressupostos da minha crítica da blogosfera são os mesmos que procuro honrar com a minha participação nela.
Desculpa lá a proxilidade, pá - com mais um abraço, já agora

miguel sp

Niet disse...

MSP e todos em geral: Nada melhor do que pensar o futuro da Blogosfera seguindo o ritmo imposto pela análise de Castoriadis no grande texto sobre "O Pensamento Político", inserto no vol. 1 sobre A Grécia. O grande pensador autonomista aponta:1)A Lei é feita por nós, nao nos é concedida;" Ela torna este facto aberto: é auto-instituiçao explícita, porque nada limita o poder legislativo do povo - e todo o limite imposto a esse poder resultaria ainda de um acto desse poder( e poderia ser alterado por esse mesmo acto); A democracia é o regime do Risco.E nao está garantida contra si própria: Os outros regimes nao conhecem o risco, estao sempre na certeza da servidao"; 3) O espaco público nao é uma entidade criada para todo o sempre e que funciona por si desde que agumas liberdades lhe sejam concedidas " e alerta para o crescente fenomeno de passividez construido pela ideologia dominante. Niet

Niet disse...

Adenda-II.- O texto, que referi, cerca de 40 páginas, é capital para nos apercebermos da grande critica de Castoriadis à ontologia política do modelo greco-ocidental. E, como referência decisiva,o iconoclasta autonomista - crítico de Marx/Lenine e Mao- os grandes embustes da contra-revolução burocrática -sublinha que só a democracia de base/directa liberta icclesia, pois, acrescenta," a democracia representativa, de facto negação da democracia, é uma contradição nos seus próprios termos, que esconde um engano fundamental". A vós,portanto, a iniciativa de libertarem, cada vez mais,a palavra dos
oprimidos e dos explorados!. Niet