15/03/10

Le mal de vivre

Leio, no Público on-line, que o suicídio é a causa de morte não-natural mais comum no país, ultrapassando os acidentes de viação.

A estatística surge dias depois das notícias sobre os eventuais suicídios de um estudante e de um professor. Notícias que chocam, que nos culpabilizam. Sei: um suicídio dói mais aos que sobrevivem. É terrível que alguém nos diga que o Mundo que lhe damos não é aquele que precisaria para viver. Que tudo o que lhe damos – quando damos – não basta para querer continuar a viver.

E, no entanto, mesmo sabendo que aos próximos fica sempre a dúvida sobre se não são, também, culpados dessas mortes, ao menos por negligência, prefiro que quem morre seja sujeito e não objecto, decisor e não vítima, que morra por decisão sua, não da guerra, da fome (mas talvez a fome seja considerada uma causa natural?), de um acidente de viação. Mesmo na morte, prefiro a dignidade da escolha. Mesmo que ache que sim, tínhamos o dever de lhe tornar o Mundo um lugar onde lhe valesse a pena viver.

Ocorre-me o início de uma belíssima canção de Colette Magny, “Viva Cuba”: “Un jeune homme de dix-huit ans s’est suicidé. Voici ce qu’il a écrit : Les hommes vivent comme des loups, pardon à ceux que j’aime.»



Mesmo se aos que ficam não é fácil perdoar (-se), não há que respeitar mais a dor de quem fica que o mal estar de quem parte. Não há que conciliar com os que criminalizam o suicídio, os que condenam o suicida à exclusão da sua igreja, os que, criminalizando a morte assistida, condenam o suicida a morrer só.

Lembro-me de uma vez ter lido que, incapaz de continuar a suportar a angústia de aguardar a efectivação da sentença a que fora condenado, um preso que esperava no corredor da morte optou por suicidar-se, e como os guardas o descobriram, lhe proporcionaram assistência médica, lhe salvaram a vida – para o conduzir, dias depois, à morte anunciada.

Os homens vivem como lobos? Não sei se não é maior a solidariedade dos lobos.

2 comentários:

bertilia disse...

Quem nunca pensou não querer mais viver?
Parabens!
Diana pela tua sintese ....
Este tema muito bem tratado por ti fez me voltar a alguns anos ou decadas atras, (e não só talvez não esteja ultrapassado)

Justiniano disse...

Caríssima Diana Andringa!
Mas porquê!? Mas que dignidade na escolha!? No momento, no lugar, nas circunstancias!? O que será, verdadeiramente, isso!?
O que existe para além da mais pura misericórdia!? O que nos pode poupar ao lamento da morte de um outro!?
Ora, não me leve a mal mas esta temática apenas me suscita dúvidas...
Cordialmente, um bem haja.