14/03/10

Não só justo mas necessário


 José Fontana, relojoeiro e livreiro nascido na Suíça,  foi um dos organizadores das conferências do casino e fundador do Partido Socialista Português, tendo-se correspondido regularmente com Marx e Engels a propósito das questões organizativas do movimento operário português, no quadro da Associação Internacional dos Trabalhadores.  
Sobre ele escreveria, nas suas memórias, Antero de Quental: "A Revolução convivia no Cenáculo. E em meio àquele punhado de revolucionários utópicos, contava-se José Fontana, empregado da Livraria Bertrand, muito alto, muito magro, sempre vestido de preto." 
Tudo isto a propósito da catástrofe que aí vem e de como combatê-la. Os socialistas de hoje encaram as coisas de outra maneira - talvez pelo facto de não construírem relógios, dão menos sinais de compreenderem o seu tempo com a mesma aguda percepção que caracterizava o seu ilustre antepassado. Os bons leitores de Fontana poderão ser encontrados sobretudo aqui, onde o tema da emancipação dos trabalhadores continua a desafiar a lógica da acumulação capitalista. Eis o que ele escrevia há mais de 120 anos e mantém a hoje a precisão de um relógio suíço:
"Dada a existência social do mundo operário como uma classe, o que é evidente, porque as condições económicas em que vive a extremam e especializam na sociedade, segue-se que os seus progressos como classe só serão efectivos quando realizados pelo seu esforço, à sua custa e sob a sua responsabilidade. Fora disso, esses progressos, tendo fora da classe operária a sua origem e razão de ser, poderão ser contestados com toda a justiça, serão por assim dizer progressos postiços e de empréstimo, sem mérito e destituídos de garantia séria.
Para que se possa dizer: a classe trabalhadora conquistou no século XIX tais e tais melhoramentos, é necessário que ela os conquiste efectivamente, ela e não outrem por ela, pela sua própria actividade e correndo-lhe os riscos. Doutro modo, esses melhoramentos serão como os do mendigo, precários, transitórios, exteriores e a sociedade não pode razoavelmente contar com eles como elementos reais de força e de vida. É pois não só justo, mas necessário, que a emancipação dos trabalhadores seja a obra dos mesmos trabalhadores."

9 comentários:

Anónimo disse...

O texto é actual, embora a palavra "operário" se desenquadre absolutamente. Como convencer as gerações mais novas que a classe que deve conduzir a gloriosa revolução trabalha em fábricas? Foram outros tempos, acabaram com a era da automação. O proletário hoje trabalha na repartição das finanças ou é professor ou mesmo arquitecto. Se bem que isto é o ABC do socialismo hoje em dia, é uma mensagem que, claramente, não chega a quem tem 18 anos e não compreende de onde vêm as crises.

Anónimo disse...

R.Noronha: Texto muito interessante.Fica-se com imensa vontade de ir ler tudo o que indica. Por acaso ando a ler e reler os Conflitos na A.I.Trabalhadores. Infelizmente não vem lá indicado o nome de José Fontana. Nem pela Suiça, que tinha duas Federações, a Jurassienne e a Romande. Duval e o famoso amigo de M. Bakounine, Schwitzguébel, eram os delegados ao Congresso de Haia ( 27/ Setembro 1872), que ficou a marcar quase o fim da AIT fundada e dirigida por punho de ferro por Marx e Engels, o PM do autor de " O Capital ", como todo o mundo dizia...Paul Lafargue, cunhado de K. Marx, representou nesse Congresso a nova federação de Madrid e a federação de Lisboa(Portugal). A AIT tinha uma doutrina oficial, que era a veiculada pelo Manifesto Comunista datado de 1848. O que veio dar origem a uma longa guerra dos estatutos, iniciada em 1866, que viria a tomar efeitos de bola de neve inquisitoriais de alto coturno e perversidade, e culminado no Congresso realizado na capital da Holanda com a expulsão de Bakounine. Na base, a suspeita de " entrismo" e divergências estratégicas decisivas; e acusações de fraccionismo entre Marx e Bakounine, quando ambos tinham iniciado a AIT pela refundação de duas sociedades secretas,a Liga dos Comunistas e a Aliança Internacional para a Democracia Socialista, respectivamente. Niet

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Bakounine sobre o papel de Marx na fundação da A.I.Trabalhadores-

Neste texto datado logo apòs o Congresso de Haia(1872),Bakounine que caracterizou o conclave de " batalha e rendição de Sedan, a invasão triunfante do pangermanismo não-bismarkiano, mas marxista, impondo o programa político dos comunistas autoritários ou democratas socialistas da Alemanha e a ditadura do seu chefe ao proletariado de todos os países da Europa e da América ".E acrescenta ainda:" Uma vez que a unidade de acção política foi reconhecida necessária, não podendo esperar de a ver sair livremente da colaboração expontânea das federações e secções dos diversos países, foi por Marx e cúmplices decidido que tinha que ser imposta. Só dessa forma conseguiram criar a unidade política tão desejada e proclamada, mas ao mesmo tempo criaram a escravatura .(...)Evitei sempre de nomear Marx e os seus homens de mão os " fundadores " da Internacional; apesar de lhes reconhecer algum mérito, a Internacional não foi de forma nenhuma uma obra sua, mas sim, obra do próprio proletariado. O grande autor, inconsciente como o são muitas vezes os autores das grandes obras,foi o proletariado representado por algumas centenas de operários anónimos, franceses, ingleses,belgas, suiços e alemães. Foi o seu vivo e profundo instinto de trabalhadores castigados pela opressão e sofrimento inerentes à sua condição que os fez encontrar o verdadeiro princípio e o verdadeiro fim da Internacional: a solidariedade das necessidades como base de partida e a organização internacional da luta económica do Trabalho contra o Capital como o verdadeiro objecto da referida Associação. Atribuindo-lhe unicamente essa base e este objectivo, criaram de uma vez só toda a potência da Internacional ". Niet

Bolota disse...

Nos nossos dias, o que têm Sócrates ou Teixeira dos Santos (socialistas) a ver com o conteúdo deste texto???

Ricardo Noronha disse...

Cara Bolota, o melhor é perguntar-lhes a eles.
Genericamente de acordo com o primeiro comentário. Niet, parece que Fontana nasceu na Suíça mas veio para Portugal relativamente novo, onde militou nas primeiras organizações operárias existentes, de natureza mutualista, se bem entendi.

Wegie disse...

Niet: Entre o chorrilho de erros e imprecisoes históricas do teu comentário refiro apenas o menor: paul Lafargue, casado com Laura arx, filha de Karl Marx, era genro não cunhado.
Abstem-te de comentar!És burro!

Anónimo disse...

Anónimo(a) Weggie or Weedy?: Que falta de nível é esse para atacar quem não conhece de parte nenhuma? Que baixeza e miséria moral!A minha opinião seguiu à risca a posição explicada detalhadamente por M. Bakounine em vários livros das suas OC.O engano no parentesco de Lafargue é um fait-divers de pequeníssima dimensão comparado com a sua má-fé e arrogância senil. Weggie ou Weedy?!? Niet

Anónimo disse...

Caro Ricardo Noronha: Creio que existem limites éticos para imprimir comentários! O comentário do anónimo Wegie de baixo e nauseabundo ataque pessoal era impublicável.Por sanidade mental e clareza democrática de base, como é evidente.Que direitos é que têm os comentadores e os membros da tripulação? Dá a impressão que os comentadores- que muitas vezes ajudam a descobrir e aprofundar temas- não têm direitos de espécie nenhuma. E ficam sujeitos à arbitraridade mais vesga ou cretina, como a concebida por este descarado insulto de analfabeto.Que eu sei já quem possa ser,pois sente-se a mediocridade e o estilo de trouxe-mouxe a milhas... A defesa da dignidade e liberdade das pessoas passa muito pela não-aceitação do vale tudo na escrita e na Vida! Niet