25/03/10

Um muro mais forte que o de Berlim?


De Cuba nada de novo, mas Obama fez ontem uma declaração. Aqui na íntegra:

President Obama's statement on Cuban human rights

Recent events in Cuba, including the tragic death of Orlando Zapata Tamayo, the repression visited upon Las Damas de Blanco, and the intensified harassment of those who dare to give voice to the desires of their fellow Cubans, are deeply disturbing.

These events underscore that instead of embracing an opportunity to enter a new era, Cuban authorities continue to respond to the aspirations of the Cuban people with a clenched fist.

Today, I join my voice with brave individuals across Cuba and a growing chorus around the world in calling for an end to the repression, for the immediate, unconditional release of all political prisoners in Cuba and for respect for the basic rights of the Cuban people.

During the course of the past year, I have taken steps to reach out to the Cuban people and to signal my desire to seek a new era in relations between the governments of the United States and Cuba. I remain committed to supporting the simple desire of the Cuban people to freely determine their future and to enjoy the rights and freedoms that define the Americas, and that should be universal to all human beings.


Entretanto, Gullermo Fariñas continua em greve de fome, iniciada há um mês.

P.S. – A propósito de «mensageiro», «mensagem» e da discussão na caixa de comentários deste post: Fidel Castro aplaude la reforma sanitaria de Obama.

30 comentários:

Anónimo disse...

Joana Lopes: O Obama-hope já era. Pelo menos para mim! Niet

Joana Lopes disse...

Nem se trata de «hope», Niet. Goste-se ou não, é uma voz importante.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Eu ainda tenho alguma esperança no Obama, talvez porque nunca tive muita.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Caro ? (anónimo)
Quando as notícias são más, abata-se o mensageiro!

xatoo disse...

Cuba, Israel e a dupla moral

xatoo disse...

senhor Vilarinho Pires
por acaso não desconhece quantos "mensageiros" mandaram os arautos da democracia de mercado em missões ao estrangeiro desde 1898 até ao Iraque passando pela Sérvia.
Presumo que não esteja também de acordo em que eles sejam abatidos porque estão eivados de "boas razões"
Ora confesse lá que o Bush até foi um tipo porreiro e visionário ao permitir-lhe andar a roçar os fundilhos de pópó à tripa forra aí por essas auto-estradas cujos valores exorbitantes de portagens e combustiveis permitem pagar os explosivos... (enquanto os que andam a pé ficam agarrados à austeridade do "défice")

Joana Lopes disse...

Xatoo,
o que é que o que diz tem a ver com o facto de Obama se ter pronunciado sobre Cuba ou com a observação do M. Vilarinho Pires? Para o peditório de anti-americanismo sistemático, não dou nem nunca dei.

Carlos disse...

A declaração de Obama deve ser aplaudida. Os erros dos EUA não servem de desculpa ao regime ditatorial cubano. O embargo económico a Cuba, que condeno, não é responsável pela morte de Orlando Zapata e pelo encarceramento por delito de opinião de dezenas de pessoas. A esquerda, na qual me incluo, se quer ter uma voz moral, deve ser a primeira a condenar o que se passa em Cuba, sem desculpas de qualquer espécie.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Senhor xatoo,
Que grande confusão que vai nessa cabeça...
Está a confundir mensageiros com militares.
E confunde militares em missões tão diferentes como invasões "pre-emptivas" (guerras provocadas pelos EUA para proteger os seus interesses económicos ou estratégicos), missões de manutenção de paz (que me lembre, os sérvios arrancavam os testículos aos muçulmanos e obrigavam-nos a engoli-los antes de os abaterem) e guerras de libertação (as duas guerras mundiais).
Mas a confusão é humana, e não denota nada de mal na natureza de quem é vítima dela.
Agora a sua sugestão de que eu aprecio o presidente Bush parece-me francamente mal-intencionada e, como não teve o cuidado de se informar previamente sobre aquilo que escreveu, idiota.
E o seu "confesse lá" faz-me lembrar coisas que não acontecem em Portugal desde 1974...
As confissões acabaram em Portugal.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Caro Carlos Azevedo,
Por acaso discordo do si quando diz que o embargo a Cuba não é responsável pela morte do Sr. Zapata.
Acredito que o embargo é um ingrediente fundamental para a argamassa que mantém de pé a ditadura.
E que ela cairá rapidamente quando o isolamento causado pelo embargo acabar.
Talvez o presidente Obama ofereça esse presente aos Cubanos... acredito que o fará se, de facto, tiver poder para o fazer.

Miguel Serras Pereira disse...

Xatoo,
por que razão apoiar as liberdades democráticas em Cuba não é possível a quem condene a política do Estado de Israel na Faixa de Gaza, e não só?
Por que razão implicava o bloqueio americano, nos tempos em que o ditador jogava basquetebol, que todos os desafios em que aquele participava tivessem de ter por resultado a vitória da equipa de Fidel, ainda que o confronto fosse com equipas constituídas por delegações de partidos-irmãos, cujos atletas eram prevenidos, antes do começo do jogo, de que assim deveria ser?
Por que razão exige o anti-imperialismo em Cuba a discriminação e a repressão brutal dos homossexuais e a adulação dos turistas, as lojas reservadas aos detentores de divisas e os armazéns à parte para os hierarcas, a censura à imprensa, o regime de partido único, a desigualdade abissal entre os responsáveis do Partido e do Estado e a massa da população?
Por que razão devemos aceitar em Cuba o que denunciamos justificadamente noutros lados?
Por que razão um trabalhador sem direitos em Cuba é diferente de um trabalhador sem direitos em Israel ou noutro lado qualquer, e deve apoiar o governo que dele os priva em vez de fazer greve ou recorrer a outras formas de luta contra ele?

Saudações republicanas

msp

Manuel Vilarinho Pires disse...

"Post reaccionário da semana"

Desconhecia essa analogia entre o presidente Fidel de Castro e o presidente Pinto da Costa!
Penso eu de que...

Saudaçoes republicanas, entusiásticas depois de um comentário como esse

Carlos disse...

Caro Manuel Vilarinho Pires,
Uma coisa é defender que o embargo é um dos ingredientes da argamassa que contribui para que o regime se feche sobre si mesmo; outra, bem diferente, é estabelecer um nexo de causalidade entre o embargo e os encarceramentos por delito de opinião, que levaram à morte de Orlando Zapata.

Joana Lopes disse...

Entendo,Manel (VP), a relação que estabeleces entre a morte de Zapata e o embargo de Cuba, mas só de um modo muito relativo e indirecto. Se não houvesse embargo, Cuba seria certamente diferente do que é hoje, mas ele não explica tudo, nem é um «aval» para o estado actual das coisas.
Como Cuba seria diferente se a URSS ainda existisse. Se... e se... Entramos no domínio da História Virtual...

Manuel Vilarinho Pires disse...

O embargo não é certamente um "aval" para a ditadura, a responsabilidade da ditadura é dos ditadores.
Mas contribui significativamente para que ela perdure e é por isso um gesto político de menor inteligência dos EUA.
Uma das reflexões interessantes que ele suscita é a percepção dos limites ao poder do "homem mais poderoso do mundo" que, creio, gostaria de acabar com ele.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Senhor xatoo,
Aí tem o seu Bush, no melhor que ele tem para dar.
Que lhe faça bom proveito e lhe proporcione semanas e semanas de inflamados impropérios contra os EUA!

http://aeiou.expresso.pt/bush-limpa-a-mao-depois-de-cumprimentar-haitiano=f573024

Carlos disse...

«O embargo não é certamente um "aval" para a ditadura, a responsabilidade da ditadura é dos ditadores.»

Exacto; daí que a responsabilidade pela morte de Orlando Zapato seja do ditador. Quanto ao resto, penso que estamos de acordo.

Joana Lopes disse...

Pus agora um P.S. no post, que tem a ver com parte da discussão aqui havida.

xatoo disse...

Joana Lopes
a primeira emoção é classificá-la de sonsa. Quanto mais se afunda no assunto mais "se entala". Como pode alguém que se pretende de esquerda legitimar o discurso com ligações a empresas noticiosas como o reaccionário ElPaís?? Percebo que lhes seja conveniente invocar a autoridade moral de uma pessoa com o prestigio universal de Fidel Castro, mas...
Ora leia a fonte original e conclua do que disse Fidel no contexto daquilo que JoanaLopes&ElPaís dizem ser "a aprovação":
"não sentimos nenhuma animadversão por Obama, e muito menos pelo povo dos Estados Unidos. Consideramos que a Reforma da Saúde constitui uma importante batalha e um sucesso de seu governo. Não obstante, parece algo realmente insólito que 234 anos depois da Declaração de Independência, na Filadélfia, em 1776, inspirada nas ideias enciclopedistas francesas, o governo desse país aprovasse o atendimento médico para a imensa maioria de seus cidadãos, coisa que Cuba conseguiu para toda sua população há mais de meio século"
http://www.granma.cu/portugues/2010/marzo/juev25/12reflexionesP.html

Joana Lopes disse...

Xatoo,
1 - Vinda de si, considero a qualificação de «sonsa» como um elogio.
2 - O conteúdo do texto de El País não contradiz em nada o que é escrito no Granma: considerar que a Reforma da Saúde constitui «uma importante batalha e um sucesso do governo» de Obama é uma forma de aplauso – não é necessário que se oiça o barulho das palmas.
3 - Last but the least (se é que usar uma expressão inglesa não é demasiado imperialista para os seus olhos): se eu fosse para uma ilha deserta e me obrigassem a escolher entre El País e o Granma, tem alguma dúvida de que escolheria o primeiro? Se tinha, perca-a, sff.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Senhor xatoo,
Como lhe disse ontem, as confissões acabaram em Portugal.
Também acabou a censura, seja sob forma directa, de determinar o que a comunicação social pode dizer, seja sob forma indirecta, de determinar as leituras permitidas e as leituras proibidas.
No entanto, a leitura do que escreve enche-me de satisfação, e deve continuar a escrevê-lo.
É a satisfação de viver num mundo livre, numa democracia, e de ter a noção de como podia ser viver num mundo dirigido por pessoas como o senhor, seja lá qual for a sua confissão.

Anónimo disse...

Meus caros, Joana e xatoo: Por favor, deixem-se de zangas menores e ridículas. Procurem é a Informação. Li no NY Times- dos poucos jornais credíveis à roda do Mundo...-que o cantor e herói nacional de Cuba, Pablo Milanes, exortou à Mudança na sua tournée em Espanha. Não chegaram ecos a Havana, claro. Por outro lado, são crescentes as dificuldades económicas do regime castrista, com uma subida " desesperada " do mercado negro cambial- com 4x4 modalidades aterradoras- e a escassez de bens de consumo essenciais e de medicamentos. Niet

maugustomonteiro disse...

Aqui, para a maioria, o imperialismo americano é uma virgem pura. Cuba é o mal refinado. Só falta pedirem ao Obama que invada a Ilha para impor a democracia que reina em Guantamano e para fazer do país um bordel que era no tempo em que os ianques a dominavam, através da máfia e do baptista.
Haja decoro
Manuel Monteiro

Miguel Serras Pereira disse...

Meu caro Manuel Monteiro,
custa-me a crer que você ache que a luta contra os centros imperiais do capitalismo e da sua ordem global implica, justifica, desculpa um regime que invoca essa luta para reproduzir os traços fundamentais da ordem que diz combater: desigualdade entre os que dispõem das alavancas do poder de Estado e da direcção da economia e a sua mão de obra; limitação ditatorial das liberdades e direitos dos trabalhadores e do conjunto dos elementos populares; culto do Partido e sobretudo do líder, acompanhado de uma mística nacionalista suspeita e de palavras de ordem que invocando o "socialismo" e o "poder popular" só contribuem para o seu descrédito e para levar água aos moinhos dos propagandistas da dominação.
Ou serei eu que terei compreendido mal o seu comentário?
Abrç

miguel serras pereira

Manuel Vilarinho Pires disse...

Para implantar a democracia em Cuba não é necessário ao presidente Obama invadi-la.
Basta deixar exportar para lá Coca-colas e McDonalds.
A democracia não se impõe, basta abrir-lhe a porta e as pessoas optarão certamente por ela, basta dar-lhes a liberdade para escolher.
Não me parece que o presidente Obama pretenda fazer de Cuba um bordel da Mafia.
Acredito até que ele seja mais fundamentalmente democrático do que quem afirma uma coisa dessas como desculpa para a eternização de uma ditadura.
Finalmente, e regressando ao seu início, onde foi buscar a ideia que, para a maioria, os EUA são uma virgem pura e Cuba o mal refinado?
Eu leio na maioria destes comentários, quase todos de pessoas que não conheço, que Cuba é uma vítima e merecia melhor sorte...

Joana Lopes disse...

Vai tão longa a conversa que só regresso aqui para o seguinte: esta ideia de que, para Cuba, só há duas alternativas - a da ditadura dos irmãos Castro ou ser o bordel dos americanos - é absolutamente incompreensível. Como se todos os vizinhos da América Central e do Sul fossem ditaduras ou longas ruas de luzes vermelhas...

Manuel Vilarinho Pires disse...

É o papão...
Papão do comunismo, papão do imperialismo...

maugustomonteiro disse...

Para que fique claro, Miguel, eu não defendo o regime cubano. Aquela não é a minha revolução. Agora não me venham falar em Obamas e na democracia dos EU para salvar Cuba. Eu defendo uma alternativa que é a luta popular, a luta de classes, para uma sociedade socialista, onde não exista propriedade privada e o poder esteja de facto na mão dos trabalahdores.Há gente neste blog que defende as virtudes da democracia americana. Estão no seu direito, mas não vou cavalgar essa pileca histórica.
Vou falar-lhe de um exemplo que conheço bem, porque estive lá durante meses a receber formação marxista; a Albania. A ditadura burocrática, que eu defendi, porque acreditava que estava a construir uma nova sociedade, caiu e os americanos entraram por ali dentro, instalaram, através das mais sanguinárias máfias, um capitalismo selvagem, incentivaram o fundamentalismo islamico onde as mulheres não têm nenhuns direitos, ao contrário do que tinham no tempo do PTA que ocupavam importantes cargos nas empresas e no estado e tinham os mesmos direitos que os homens.
Podem-me dizer: foi o povo que quiz assim. Mas eu, que também sou povo, não quero aquilo.E como não sou nacionalista, mas internacionalista, tenho voto na matéria, assim como o Miguel.
Portanto, estimado Miguel,que o povo cubano se levante em luta contra aquilo que achar que não serve os seus interesses, mas não me vão comer por lorpa ou anjinho sobre as manobras do imperialismo para fazer daquele país uma coutada sua.
E já agora uma pergunta aos furibundos defensores da democracia burguesa deste blog: acham que o povo cubano se estivesse profundamente contra o regime já não o teria derrubado? O sentimento revolucionário e nacionalista naquele povo é profundo. E para eles, bem ou mal, Fidel é o simbolo dessa revolução e desse orgulho nacional. Os americanos já tentaram tudo: invasão, atentados, cerco económico, sabotagem, apoio à oposição,meios de propaganda poderosos, dinheiro à fartana para comprar tudo e todos. E nada.
Aquele regime está enfraquecido, enfrenta uma grande super-potência e,no entanto, mantem-se. E sabe porquê? Por muito que lhe custe porque tem apoio popular.
E pronto, Miguel, já estou a fumegar de tanta teoria, mas hoje é o que se pôde arranjar...
Com apreço.
Manuel Monteiro

Miguel Serras Pereira disse...

Manuel Monteiro, eu não defendo a "democracia burguesa", e tudo o que tenho escrito tem, entre outras coisas, procurado mostrar que a democracia só pode ser construída através da expropriação dos expropriadores, implantando um poder que dê corpo ao princípio da livre associação dos produtores.
Por outro lado, não desprezo, e acho que é suicida fazê-lo, as liberdades e direitos que a luta secular dos trabalhadores e outras camadas populares logrou conquistar, impondo limites, sempre precários, sempre insuficientes, às oligarquias estatais no sentido estrito ou para-estatais que governam a esfera económica.
Quanto a Cuba, dizer como o meu amigo faz que, se o regime se aguenta é porque tem o apoio da maioria da população, é um erro grave, motivado talvez pelo ardor da discussão.
Você acha que os quarenta e oito anos de ditadura que conhecemos se deveram ao apoio da maioria da população à ditadura de Salazar? Que Franco se manteve um pouco menos, mas tempo de mais em todo o caso, por ter conquistado a convicção dos povos de Espanha?
Claro que todos os regimes que não caem de um dia para o outro gozam de algum apoio ou conseguem canalizar e neutralizar em seu benefício parte dos sentimentos e insatisfações que encontramos entre camadas populares. E depois? Berlusconi será um democrata por ter o apoio que tem? Será uma democracia o que o seu governo visa em Itália? E o poder do goevrno de Sócrates é democrático e/ou democratizador por aquele ter tido os votos que teve?
Uma coisa é dizermos que não pode haver democracia contra a vontade da maioria dos cidadãos, outra é dizer que, aprove a maioria o que aprovar, o resultado será sempre a democracia.
No caso de Cuba, o que creio é que o regime é ditatorial e, embora goze de certo apoio de massa, não tem a maioria a seu favor. E não creio, para voltar ao princípio, que isso faça de mim um adepto do imperialismo.
Espero poder continuar esta discussão consigo a propósito de outras questões que talvez permitam enquadrar esta com mais clareza.
Até lá, fique com as minhas saudações cordiais

msp

Anónimo disse...

Breves notas: Todo o poder político, hierarquizado, verticalizado,tem a ver com a dominação. Que é, tanto ou mais feroz, quanto não existam partidos e tribunais independentes. Cuba foi durante dezenas de anos, uma espécie de Joker " fou " do marxismo soviético- puro,duro,estaliniano- com a mistura da salsa e do rum das Caraíbas...Com a crise do Capitalismo Mundial Integrado - e do abalo da influência da super-potência USA -pareciam existir condições objectivas para a reforma democrática do regime castrista. A herança terrível de afrontamento belicista do consulado de G.W.Bush gerou novos focos de anti-americanismo nos países mais influentes da América Latina, e mesmo do Sul. E a mitologia " revolucionária " de Fidel Castro ganhou novo alento, pelo menos a prazo. Será esse facto suficiente para conter o desespero e a fome que invadem hoje as ruas de Havana? Niet