31/08/10

Mea culpa de Fidel

Também é sinal de grandeza admitir erros. Como Fidel, ao assumir a responsabilidade pela homofobia reinante em Cuba nos anos sessenta. Agora, imagine-se o que por cá os fiéis diriam se alguém acusasse o mesmíssimo Fidel de tal crime...

14 comentários:

rafael fortes disse...

Amigo Luis
ele assume a culpa por inacçao, nao por intervençao propria, o que é bastante diferente do que alguns dos seus colegas de tasca fazem.

Creio que foi o MSP que num post recente, deste ano, fala da perseguiçao politica aos homossexuais cubanos como se fosse uma orientaçao dada pelo Buró Politico do PCC no ano de 2010...

Nem que seja só para desmentir o anátema da Cuba homofobica, recomendo a visita ao site do CENESEX (www.cenesex.cu) que recentemente e em articulaçao com o governo cubano promoveu mais uma jornada contra a homofobia (além de ser responsavel pela definiçao das linhas mestras da educaçao sexual nas escolas cubanas) e já agora ao blog pessoal de Francisco Rodriguez (www.paquitoeldecuba.wordpress.com), um dos chefes de redacçao do jornal Trabajadores, homossexual assumido, seropositivo e critico revolucionário. O seu blog foi premiado recentemente pela imprensa cubana.

Se isto é a homofobia reinante em Cuba, venha ela para Portugal...

Cumrimentos
Rafael

André Carapinha disse...

Rafael e outros que tais, se quer saber algo sobre a perseguição aos homossexuais em Cuba nos anos 60, 70 e 80, leia por favor a auto-biografia de Reinaldo Arenas, "Antes Que Anoiteça". E, antecipando se me permite, não vale aqui insinuar que o Arenas era um agente da CIA. Leia o livro e entenderá exactamente as razões por que foi perseguido.

rafael disse...

Leu o que escrevi? Visitou os sites de que falei? Acha que actualmente em Cuba alguém é perseguido politicamente por ser homossexual? Acha?

Miguel Serras Pereira disse...

Rafael Fortes,
já que me chama à colação a despropósito, digo-lhe que faço minhas estas palavras do André Carapinha no seu post http://doismaisdoisigualacinco.blogspot.com/2010/08/fidel-e-os-homossexuais.html :
"Fidel Castro assume a sua responsabilidade na ignóbil perseguição que o regime cubano moveu, até muito dentro dos anos 80, aos homossexuais. Não lhe fica mal assumir os erros, embora seja muito difícil de acreditar que estes se devessem, como Fidel argumenta, a estar muito preocupado com outras coisas na época. Na verdade, a perseguição aos homossexuais era regra na época, não tivesse Fidel, logo em 1959, declarado que os gays "não podem ser revolucionários"; ou, em 1971, decretado a homossexualidade como "patologia anti-social" (e não vale insinuar que se tratam de calúnias de "agentes da CIA", como é habitual quando se critica Cuba. Estas questões estão amplamente documentadas, constam até de resoluções do PC Cubano, e encontram-se facilmente em inúmeros sites ligados aos movimentos LGBT. Por exemplo aqui, mas há muitos outros. Pesquisem!). Também é curioso que seja agora assumida uma perseguição que negou em 1992, quando afirmou: "Nunca promovi políticas contra homossexuais"!".

É quanto basta.
Cumpmts

msp

rafael disse...

MSP
Fidel em nenhum momento da entrevista assume ter promovido tais campanhas. Nao vejo a contradiçao. A questao que deixo é clara e essa é uma das nodoas da revoluçao cubana, o ter havido perseguiçao politica homofobica, hoje em dia persiste essa politica odiosa ou foi radicalmente mudada por uma politica publica, por uma moral revolucionaria anti-homofobica, pela educaçao para a diversidade sexual, pelo fim da discriminaçao?

Luis Rainha disse...

Rafael,
Houve mesmo perseguição movida a homossexuais em Cuba. É disso que Fidel fala e claro que foi o partido o responsável, mesmo que contando apenas com o silêncio do Comandante. Só isso.

Luis Rainha disse...

"se marginó a los homosexuales en Cuba y a muchos se les envió a campos de trabajo militar-agrícola, acusándolos de "contrarrevolucionarios".

–Sí –recuerda–, fueron momentos de una gran injusticia, ¡una gran injusticia!"

Não foi por certo o Batista que os meteu em campos, pois não?

rafael disse...

já assumi acima q a perseguiçao é uma nodoa da revoluçao e condeno-a veemente mas a questao que eu coloco e que o MSP ainda nao me respondeu é esta:

hoje em dia persiste essa politica odiosa ou foi radicalmente mudada por uma politica publica, por uma moral revolucionaria anti-homofobica, pela educaçao para a diversidade sexual, pelo fim da discriminaçao?

eu nao disse que nao tinha havido perseguiçao a homossexuais em Cuba, gostava era de poder debater a situaçao actual que parece que muitas vezes aparece como se nao existisse...como se cuba tivesse parado em 60, 70 ou 80 e nao tivesse uma politica radicalmente diferente face à diversidade sexual e de género...

André Carapinha disse...

Rafael:

O que escrevi não tem a ver com haver ou não políticas homofóbicas em Cuba nos dias de hoje, mas com outra parte do seu comentário, esta:

«ele assume a culpa por inacçao, nao por intervençao propria, o que é bastante diferente do que alguns dos seus colegas de tasca fazem.»

Quer que acredite que uma resolução do PC Cubano a qualificar a homossexualidade como "patologia anti-social" resulta apenas da "inacção" de Fidel?

Quanto ao mais, sei que hoje a atitude do regime cubano quanto aos homossexuais é bastante diferente, e ainda bem; não se pode é branquear a terrível perseguição que ocorreu, e as responsabilidades que se tem, que é o que o Fidel está a fazer.

A sério, devia ler o livro do Arenas.

Cumprimentos

Miguel Serras Pereira disse...

Rafael Fortes,

torno a fazer minhas as palavras do AC.
Está bem assim?
Cumpmts

msp

rafael disse...

MSP, eu creio que fui bastante honesto ao condenar a perseguiçao politica a homossexuais, porque é que parece que tem dificuldade em elogiar o socialismo cubano por ter rectificado profundamente essa posiçao? Volto a perguntar-lhe: hoje em dia persiste essa politica odiosa ou foi radicalmente mudada por uma politica publica, por uma moral revolucionaria anti-homofobica, pela educaçao para a diversidade sexual, pelo fim da discriminaçao?

Miguel Serras Pereira disse...

Rafael Fortes,
mas, fazendo minhas as palavras do AC, julguei que já lhe respondera.
Sim, a situação mudou e creio que não existe hoje perseguição particular contra os cidadãos homossexuais. Não me lembro de ter dito o contrário - mas admito que, nalgum post ou comentário, não tenha explicitado suficientemente que esse traço homofóbico se referia sobretudo aos anos passados (meados, talvez, dos anos 80).
Mas, já agora, repare que um país em que a "inacção" do chefe, combinada com as directivas homofóbicas do partido único, pode decidir a tal ponto das coisas configura uma variante muito controversa de "poder popular" - quer dizer: exclui que entendamos este como poder exercido em termos igualitários pelos cidadãos organizados. E que, por isso, creio que são boas razões as que me levam a declarar uma mistificação considerar que há "socialismo" em Cuba. Do mesmo modo que me parece que falar, como o Rafael Fortes faz, num acesso de entusiasmo pouco racional, de "uma moral revolucionaria anti-homofobica, pela educaçao para a diversidade sexual, pelo fim da discriminaçao", é mais ou menos que falarmos da "legislação revolucionária anti-homofóbica" do governo de Sócrates ao legalizar o contrato matrimonial entre homossexuais. Não lhe parece?

msp

rafael disse...

de todo, MSP, de todo. Considerar que Socrates e o seu governo sao "revolucionariamente" anti-homofobicos seria colocar reforma e revoluçao ao mesmo nivel de legitimidade e nessa cantiga nao vou.

Nem que seja para separar algumas aguas, se em Cuba ainda falta fazer muita coisa - o facto de haver sectores que resistem à alteraçao da Lei da Familia é sintomático - passos dados na educaçao, na gestao dos audio visuais, na promoçao da diversidade, na criaçao das jornadas contra a homofobia, na integraçao de activistas LGBT em tarefas revolucionarias mostram a tentativa de mudar o paradigma social, a forma de ser vista a comunidade LGBT em Cuba e de criar (sem entusiasmos irracionais) na moralidade publica revolucionaria uma aceitaçao e promoçao da diversidade sexual e de género...

Se isso é feito de forma integrada ou é uma imposiçao desde "cima"? Creio que já conhece a minha opiniao suficiente bem para depreeender o que penso dos processos de poder popular em Cuba...

Justiniano disse...

Caro Rafael, a posta do Rainha aponta para o arrependimento, redenção e ambivalencia!! O Rafael ensaia pela comissão por acção e por omissão, salta o arrependimento por outras virtudes que serão redenção, atravessando algumas nódoas que a final terão sido coisa pouca num mar de progressos.
E só lhe falta, à laia de remissão, admitir, sem problemas, os erros do passado!!! Sem problemas, sempre, pelo menos para si!!!