14/08/10

O pequeno inquisidor

Num artigo de opinião publicado hoje no Público, um "membro suplente da comissão nacional de jurisdição do PS" veio justificar a expulsão de 200 militantes que concorreram em listas alternativas às do partido. Os colectivos partidários não são "uma brincadeira", assevera este dirigente, que lembra que até no "futebol salão" o facto de um "jogador jogar contra a sua equipa" seria motivo para a máxima penalidade. Dura lex sed lex, latiniza José Assis, que aproveita a ocasião para ir mais longe. Na sua opinião, o caso de Manuel Alegre é ainda "mais grave" pois violou a mesma norma disputando o lugar de primeira figura do Estado. Assim sendo, o actual apoio a Alegre configuraria um "indulto político" mas "sem que tenha sido fundamentado esse perdão".

Não deixa de ser curioso seguir esta lógica de raciocínio e aplicá-la às presentes circunstâncias. Será que José Assis defende a expulsão de Defensor Moura? E dos militantes socialistas que já decidiram apoiar outro candidato, como é o caso de Edmundo Pedro relativamente a Fernando Nobre? E que castigo reservará para um indeciso decidido e actuante, como Mário Soares? Estará José Assis a pedir que recaia sobre si uma sanção por estar a atacar o candidato do partido, considerando-o uma espécie de socialista fora-da-lei? Pretenderá que se instaure no próximo ano um processo a todos os militantes que publicamente apoiem outro candidato que não Manuel Alegre?

Na verdade, este é o problema de sempre dos cães de guarda: a mão com que ameaçam tapar a boca do outro é a mesma que poderá ser usada contra si no minuto seguinte. O fenómeno aqui tem mais graça porque é evidente o tropeção de quem queria utilizar uma (grande) leva de expulsões associadas às últimas autárquicas para distilar o seu rancor a Manuel Alegre. Felizmente que há mais "esquerda democrática" para além do PS - ao contrário do que gosta de enfatizar Santos Silva - e que a maioria dos militantes socialistas não se revê nos impulsos inquisitoriais de José Assis. Mesmo que aticemos muito o espírito de claque, a política nunca se confundirá com um jogo de futebol salão.

1 comentários:

tempus fugit à pressa disse...

não creio que a maioria dos militantes se importe o que quer que seja com o caso
pelo menos por estes lados ninguém se tem importado com isso
apenas uma minoria comenta

o resto ou é apático ou acha que não lhes diz respeito