10/03/10

Ser precário


Ser precário é ser pau para toda a colher.
Ser precário é não poder ter ofício.
Ser precário é eventualmente fazer estágios de profissionalização para animar as estatísticas do governo.
Ser precário é não ter a certeza de arranjar trabalho amanhã.
Ser precário é não ter direito ao subsídio de desemprego, mesmo quando já se trabalhou muito e agora não se tem trabalho.
Ser precário é ser obrigado a fazer descontos mesmo quando não se ganhou dinheiro.
Ser precário é receber um salário de miséria e engrossar o cabedal das empresas de trabalho temporário, muitas delas nas mãos dos boys e dos manda-chuvas dos grandes partidos.
Ser precário é não ser contabilizado nas já extensas listas dos desempregados.
Ser precário é trabalhar sem contrato e poder sempre ser despedido sem justa causa.
Ser precário é estar sistematicamente «à experiência», por muito comprovadamente experiente que se seja.
Ser precário é ser tratado como um profissional liberal quando se vive abaixo de cão.
Ser precário é, quase sempre, não escolher ser precário.
Ser precário é ter um livro de recibos verdes para evitar milagrosamente que os empregadores tenham de assumir qualquer responsabilidade na construção e manutenção da cadeia de produção da riqueza.
Ser precário é não poder ter filhos, porque os patrões não gostam de grávidas, nem de mães competentes, nem de pais demasiado presentes.
Ser precário é ser tratado como gado, mas sem ração assegurada.
Ser precário é tapar os pequenos e os grandes buracos do capitalismo.
Ser precário é não ter a certeza de poder pagar a renda, é ter a certeza de que o dinheiro não dá para todas as facturas.
Ser precário é ter de comer menos e menos vezes por dia, excepto quando a família ou os amigos se compadecem.
Ser precário é engolir a raiva, é chorar às escondidas para não dar nas vistas, é ter medo de ser etiquetado de rebelde, é ter pânico de que esse rótulo motive a perda de um emprego medíocre mas tão difícil de arranjar.
Ser precário é ter vontade de ir para a rua gritar.
Ser precário é ser obrigado a ir para a rua gritar.
Ser precário é decidir ir para a rua gritar.
No dia 1 de Maio.
Com todos os outros companheiros precários que por aí andam escondidos.
Com todos os que, revoltados com a crescente injustiça social e o aumento exponencial das hostes do precariado, se juntam ao desfile do MAY DAY.
Ser precário é, de súbito, ter consciência de que se todos dermos as mãos e batermos os pés, O MUNDO TREME.


4ª feira, 10 de Março, às 21h

Associação de Residentes de Telheiras

Rua Professor Mário Chico, nº 5

May Day

20 comentários:

Carlos Vidal disse...

"Mário Chico", claro, tinha de ser.
Não fazes ideia daquilo a que te referes ou que referes. Quem foi "Mário Chico"? (Uma vez encontrei-o na Serra do Sico - se não fosse o senhor aquilo/aquele que foi, eu nem me meteria no assunto.) Força Ricardo.
CV

Ricardo Noronha disse...

Não faço a mínima ideia de quem era o Mário Chico ou da razão pela qual existe uma rua em Telheiras com o nome dele.

Zé Neves disse...

O Carlos Vital tem razão. É Mário Chicó.

Miguel Serras Pereira disse...

O Mário Chicó tinha razão: nunca lia o Carlos V (não confundir os soberanos, este é o de cá).

Miguel Serras Pereira disse...

Zé Neves, não é Carlos Vital que se diz: é Vital Moreira.

Carlos Vidal disse...

Assim é que é, Ricardo Noronha. Avante, camarada. Não ligues a gajos que pouco merecem. Abc. CV

Anónimo disse...

Mário Chico deve, pela certa, ser o pai da Silvia Chicó, especialista em Belas Artes. Creio que a Silvia- que nome batailliano- viveu com o J-A. França; ou ainda vive. Os especialistas das Belas Artes estão a par...Niet

Miguel Serras Pereira disse...

Malhas que o império - do Carlos V - tece

Mas não, não é um doutor de coimbra - é um lente do chiado - da FBAUL - fabuloso

Ricardo Noronha disse...

Limitei-me a copiar a divulgação da assembleia a partir do e-mail que recebi. O Mário Franciscó que me perdoe, mas para mim é só um endereço.

Miguel Serras Pereira disse...

Cuidado, Ricardo:
…da FBAUL - fabuloso - é Carlos V, o imperador do Chiado, não o que tem nome na rua em Telheiras.
O violador, não - o prof., queria eu dizer.

Conceição disse...

boa tarde: é só p avisar q no google reader aparece isto no seu post....

Ser precário
by Ricardo Noronha

Anónimo disse...

A Sílvia Chicó é filha do Mário, catedrático da U.Lisboa de Arte Portuguesa,já falecido. Ela e o irmão doaram tudo à Fundação Mário Soares.Textos, quadros e estatuária? Só vendo...O J-A. França forma com o José Quitério, o ex-libris cultural e social mais pujante e sonante da cidade de Tomar, onde nasceram. Quanto a casórios do J-A não sei.Doou à sua terra natal uma Colecção de Pintura, que deve valer milhões. De surrealista a Catedrático da Sorbonne e da U.Nova-Jubilado, íntimo de Jorge de Sena,E. Lourenço e EP. Coelho, a trindade que " governou " as " Artes & Letras lusas nos últimos 40 anos,tudo- de bom e de mau- que aconteceu em Portugal nessas áreas passou pelas suas mãos.Uma vez tive pena de não os ter fotografado na esplanada do L´Ecritoire Café, frente à Sorbonne.Eu estava ao balcão a tomar o p-almoço com uma sózia da Sharon Tate tedesca...Chega de jet-setices. Niet

Carlos Vidal disse...

Amigo Niet, não meta nisto o prof. França - não tem nada a ver com a minha colega Sílvia. É outro o historiador que o meu amigo queria referir (não interessa).

Quanto ao resto, amigo Niet, veja o desdém com que estes tipos tratam o autor da "Arquitectura Gótica em Portugal"...
(Tirando o chefe Miguel, os outros pensarão que o gótico é um tipo de música dos 80s.)

Anónimo disse...

Carlos Vidal : Fico sensível aos seus sentimentos. Espero que sejam leais e sinceros.Salut! Niet

Carlos Vidal disse...

Caro Niet, já viu aquela do Cavaco vir hoje dizer que não era possível, no tempo dele, o governo não conhecer o negócio, a "aventura" da compra da TVI pela PT?? O que acha?

Miguel Serras Pereira disse...

Carlos V

chefe era o Estaline - aqui não há disso. Mas vem aí o Papa, não tarda: para quem goste de uma terra com amos, já é alguma coisa - democracia à moda de Cuba, servidão participada nos recreios antes e depois da missa e outros comícios santos de guarda, Fátima-terra-de-fé, bentas feiras populares, avantes de todos num só rebanho. Ninguém quer continuar?

msp

Anónimo disse...

Carlos Vidal: Tudo bem, fica-lhe bem essa inquietação! Não se esqueça, no entanto, de uma coisa muito importante. Que eu leal e sinceramente lhe digo agora:o C.Vidal foi o carrasco da " Comuna do 5 Dias Blogue ".Adorno tem uma fórmula diabólica para esse choque entre o entendimento e a razão( de Estado?) ao indicar que "os idealistas projectaram nas nuvens o espírito, mas só podemos lamentar aqueles que o possuiam"...
Sobre o Cavaco Silva, acho que só um psicanalista reichiano sofisticado nos pode tentar revelar o Super-Eu dessa personagem. Acho que é perder tempo irmos para esses terrenos pantanosos. Niet

Carlos Vidal disse...

Eu, o carrasco, Niet?
Pobre de mim, só porque respeito a figura e a obra de José Estaline?
Só porque respeito a personagem sou um carrasco, Niet?
Tenha dó.
CV

Anónimo disse...

Carlos Vidal: Se me permite, por razões éticas e estécticas, aponto-lhe - por que creio nisso fundamentalmente- que a " democracia é uma questão que ultrapassa a política. É uma questão total ", como disse Castoriadis. O tempo se encarregará de mostrar o que V. pode fazer a dizer bem de Estaline. Salut!Niet

Carlos Vidal disse...

Amigo Niet, vamos deixar o nosso amigo Ricardo Noronha em paz.
Transfiramos a nossa conversa para outro lugar.
Sempre interessado,
CV